Por Christina Amann e Andrey Sychev
WOLFSBURG, Alemanha (Reuters) - Trabalhadores da Volkswagen (ETR:VOWG) na Alemanha ameaçaram nesta quarta-feira entrar em greve a menos que a administração da companhia desista de plano de fechar fábricas no país.
Paralelo a isso, a montadora divulgou mais cedo queda de 42% no lucro do terceiro trimestre, para o nível mais baixo em três anos.
A Volkswagen divulgou seus resultados do terceiro trimestre no mesmo dia em que promoveu uma segunda rodada de negociações com sindicatos sobre salários e o futuro da empresa, cuja administração afirma que a montadora tem sido pressionada por custos mais altos e fraca demanda e que precisa de grandes mudanças para manter-se competitiva frente a rivais asiáticos.
No entanto, os representantes dos trabalhadores acusam a gerência de tomar decisões equivocadas e de destruir um consenso precioso sobre a tomada de decisões. Enquanto os sindicatos exigem um aumento salarial de 7%, eles denunciam planos da Volkswagen para fechar três fábricas alemãs, bem como demissões em massa e cortes salariais de 10% para quem seguir funcionário da empresa.
"E eu digo claramente que a Volkswagen abriu a caixa de Pandora ao encerrar a segurança do emprego e outros acordos coletivos, colocou em risco a confiança de seus funcionários e agora cabe à Volkswagen restaurar essa confiança", disse o negociador do sindicato IG Metall, Thorsten Groeger.
"Caso contrário, posso dizer claramente que teremos de planejar uma nova escalada com o nosso comitê de negociação e acordo coletivo", disse ele a jornalistas.
Referindo-se à queda no lucro do terceiro trimestre, o diretor financeiro da Volkswagen, Arno Antlitz, afirmou em comunicado que "Isso destaca a necessidade urgente de reduções significativas de custos e ganhos de eficiência".
Antlitz disse que confia que a empresa poderá chegar a um acordo com os trabalhadores, mas não descartou greves, com a empresa considerando mais de 10 bilhões de euros em cortes de custos.
O executivo disse que há um plano de recuperação dos negócios da companhia na China que inclui software aprimorado e assistência à direção, esperando retomar participação no mercado a partir de 2026 ou 2027.
O governo alemão tem pressionado por uma solução que mantenha as fábricas da Volkswagen abertas, mas um porta-voz disse nesta quarta-feira que é muito cedo para decidir se Berlim fornecerá ajuda estatal à companhia.
VENDAS EM QUEDA
O mercado europeu de automóveis encolheu em cerca de 2 milhões de veículos desde a pandemia, resultando em cerca de 500 mil unidades a menos de vendas anuais para a Volkswagen. Modelos mais baratos da Tesla (NASDAQ:TSLA) e de montadoras chinesas ganharam participação de mercado no continente.
"Defendemos mercados livres e abertos; se você observar os concorrentes chineses, eles já começaram a instalar fábricas na Europa", disse Antlitz.
"Não nos esquecemos de como construir carros excelentes, mas nossos custos de produção estão longe de serem competitivos", disse ele. "Deveríamos realmente usar o tempo para aumentarmos nossa competitividade nas fábricas alemãs."
Na China, a Volkswagen também perdeu participação de mercado para modelos mais baratos de concorrentes locais, e o impacto foi exacerbado por uma desaceleração mais ampla da economia chinesa devido à crise no setor imobiliário.
As vendas da Volkswagen na China, o maior mercado de automóveis do mundo, caíram 15%, para 711.500 veículos no terceiro trimestre. Isso reduziu o número global da empresa, que caiu para 2,176 milhões de veículos. O dividendo de 2024 também será menor.
No acumulado do ano, as ações da Volkswagen acumulam queda de cerca de 20%, superando uma queda de 10% no índice automotivo pan-europeu.
No início desta semana, a chefe do conselho de trabalhadores da Volkswagen, Daniela Cavallo, ameaçou interromper as negociações.
Os sindicatos não podem realizar greves mais amplas até dezembro, como parte de uma trégua previamente acordada, mas os líderes trabalhistas ameaçaram repetidamente que os trabalhadores farão tudo o que estiver ao alcance para evitarem o fechamento das fábricas, o primeiro nos 87 anos de história do grupo.
A gerência afirma que a operação das fábricas alemãs é muito mais cara do que a dos concorrentes, devido aos altos custos com trabalhadores e energia.
Antlitz disse que os cortes serão difíceis, "e que muitos funcionários estão preocupados com seu futuro...Estamos enfrentando decisões essenciais e dolorosas", disse ele.