Por Helen Murphy e Luis Jaime Acosta
TORIBIO, Colômbia (Reuters) - Durante décadas, os rebeldes marxistas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) desceram das montanhas para recrutar combatentes, repor suprimentos e se movimentar livremente pelas terras de cultivo dos arredores de Toribio, cidade onde gerações de algumas famílias se juntaram ao movimento durante as cinco décadas de guerra.
Durante a maior parte desse tempo, a presença do governo era praticamente inexistente nas terras altas e férteis do oeste do país, onde plantações da maconha e coca crescem ao lado do café e da cana de açúcar.
É precisamente em bastiões como esse que as Farc esperam formar um movimento político assim que os líderes da guerrilha assinarem um acordo de paz com o governo, provavelmente mais perto do final deste ano.
Mas, mesmo entre os fazendeiros majoritariamente pobres de Toribio, não parece haver muito entusiasmo com a transformação dos sete mil combatentes da insurgência armada em um partido político.
"Não quero ter nada a ver com eles, eles causaram muito estrago", disse Martha Secue, de 40 anos, lembrando com lágrimas nos olhos um dia cinco anos atrás em que as Farc detonaram um ônibus-bomba diante de um pequeno posto policial na praça principal de Toribio, arrancando um braço de seu marido e encerrando sua carreira de sapateiro.
Em seu barraco de tijolo, ela luta para criar três filhos na periferia do comércio ilegal de maconha, alimentando-os com arroz, feijão e banana nos dias bons e água com açúcar nos dias ruins.
"Eu nunca votarei nas Farc", afirmou, cuidando de um punhado de mudas de maconha que cultiva para vender aos traficantes locais.
Embora um cessar-fogo unilateral convocado pelas Farc permita que os moradores durmam melhor, o longo conflito levou o caos à região, já que dezenas de locais morreram nos confrontos de unidades rebeldes com tropas nos vales.
O conflito já custou pelo menos 220 mil vidas em toda a Colômbia.
Os moradores, a maioria nativos daquela área, passaram muito tempo sendo acusados de ajudar as Farc, e muitos têm familiares em suas fileiras – mas só alguns parecem dispostos a lhes dar uma chance de se pronunciar em uma nova era de paz em potencial.