(Reuters) - Em uma viagem a Pequim uma década atrás, uma autoridade sênior do governo perguntou a Bill Gates quanto dinheiro a Microsoft ganhava na China. A autoridade pediu ao intérprete que verificasse novamente a resposta de Gates por não acreditar que o número fosse tão baixo.
O problema ainda não desapareceu. O desafio da Microsoft na China mostra um problema mais profundo para a gigante norte-americana de softwares: apesar da popularidade do sistema operacional Windows e do pacote Office, poucos em mercados emergentes estão dispostos a pagar por cópias legítimas.
Isso não custa apenas receita à Microsoft, mas limita a disseminação da versão mais recente, o Windows 8 - analistas dizem que até mesmo quem compra software pirata prefere versões mais antigas. Segundo a StatCounter, site que rastreia software que são executados em computadores conectados à Internet, mais de 90 por cento dos PCs na China - hoje o maior mercado do mundo - estão usando versões do Windows anteriores a 8.
A Microsoft está tentando enfrentar o problema. Neste ano, a empresa está oferecendo Windows 8 com desconto para fabricantes de PCs que instalem seu motor de busca o Bing como padrão. E dá de graça versões do Windows 8 para smartphones e alguns tablets.
Segundo o grupo de lobby antipirataria cofundado pela Microsoft, o BSA, os mercados emergentes respondem por 56 por cento dos PCs em uso, e 73 por cento da pirataria de software. Da receita de 77,8 bilhões de dólares que a Microsoft no ano fiscal de 2013, Brasil e Rússia cada "ultrapassaram" 1 bilhão de dólares, segundo apresentação da Microsoft. Em comparação, a Apple gerou 27 bilhões de dólares na região da Grande China, que inclui Hong Kong e Taiwan, em seu ano fiscal de 2013.
Parte da dificuldade de tratar a pirataria em mercados emergentes é de que cada parte da cadeia apresenta um problema.
Para fabricantes de PCs que trabalham com margens muito magras, o sistema operacional é uma das partes mais caras da máquina, enquanto lojas pequenas, que formam a maioria dos varejistas nestes mercados, não podem se dar ao luxo de recusar consumidores sensíveis a preços que estão confortáveis em comprar software pirata.
O resultado é que até 60 por cento dos PCs vendidos nos mercados emergentes da Ásia, segundo o gerente de pesquisas Handoko Aki, da IDC, não têm sistema operacional Windows pré-instalado -- os chamados "PCs pelados", que normalmente vêm com algum sistema operacional gratuito e com código aberto como o Linux. Isso se compara a cerca de 25 por cento nos mercados desenvolvidos da região, como Japão e Austrália.
(Por Jeremy Wagstaff e Gerry Shih)