Por Eliana Raszewski e Luc Cohen e Marcelo Rochabrun
BUENOS AIRES/SÃO PAULO (Reuters) - O mercado de maior crescimento do Uber no mundo agora é a Argentina, disseram executivos da empresa, atribuindo a expansão ao súbito desmantelamento econômico do país, que impulsionou o desemprego e cortou o poder de compra dos argentinos.
Vinte por cento dos motoristas da companhia em Buenos Aires, a única cidade onde ela opera na Argentina, estavam desempregados imediatamente antes de ingressar na Uber.
A desaceleração econômica "certamente ajudou muitas pessoas a nos acharem uma fonte alternativa de renda", disse Felipe Fernandez Aramburu, que dirige o desenvolvimento de negócios do Uber na Argentina, em entrevista recente à Reuters.
Apesar das preocupações com a economia do país, que encolheu 4,2 por cento no segundo trimestre após o banco central subir as taxas para evitar uma crise cambial, o Uber diz não temer que uma recessão possa impulsione o número de motoristas sem um aumento equivalente na demanda.
"Nosso crescimento hoje tem menos a ver com condições econômicas dos motorista", disse Andrew Macdonald, que dirige o Uber na América Latina. Macdonald atribui o movimento ao que descreve como escassez de opções de transporte público para aumentar a demanda na Argentina e disse que o crescimento foi maior nos bairros com menos serviços de ônibus e trem.
Mas a unidade argentina do Uber ainda enfrenta dificuldades: para a maioria dos passeios, a empresa não cobra dos motoristas a comissão de 25 por cento teoricamente devida. Devido a obstáculos legais e regulatórios, as corridas de Uber na Argentina só podem ser pagas em dinheiro ou cartões de crédito emitidos no exterior, o que quase nenhum local tem.
Quando os passeios são pagos em dinheiro, os motoristas atualmente não têm como pagar à Uber sua comissão de 25 por cento, deixando muitos com uma dívida crescente com a empresa. Comissões de motoristas são a única fonte de receita da Uber.
O enigma argentino do Uber de ser incapaz de lucrar com seu rápido crescimento reflete um problema mais amplo para o serviço de transporte por aplicativo, que tem lutado para provar que pode ser lucrativo, à medida que se prepara para uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) planejada para 2019.
MUITOS MOTORISTAS
Macdonald minimizou essas preocupações, no entanto.
"Não é sobre ganhar dinheiro no curto prazo", disse ele, acrescentando que a empresa "eventualmente" terá que cobrar essas comissões.
Macdonald não disse se o mercado argentino é lucrativo. O Uber divulgou que suas operações no Brasil - agora o segundo maior mercado da empresa em todo o mundo - são lucrativas.
Uma vez que o Uber possa aceitar cartões de crédito e débito locais poderá recuperar o que lhe é devido, disse a empresa.
Mas motoristas dizem que a atual taxa de crescimento argentino pode ser temporária, ligada à falta de comissão.
"O que está acontecendo é que há muitos motoristas e, portanto, há menos trabalho para nós", disse Jorge, motorista de Uber de 62 anos que pediu anonimato. "Todo mundo está vindo para o Uber porque eles não cobram uma comissão".
O Uber diz que nos últimos três meses teve 55 mil motoristas ativos e 1 milhão de usuários ativos em Buenos Aires. A cada dia, a empresa disse que adiciona entre 300 e 400 novos motoristas e 7.000 novos usuários.
O Uber opera na Argentina desde 2016, quando enfrentou resistência agressiva de taxistas e autoridades governamentais, incluindo disputas legais que levaram à proibição de pagamentos com cartão de crédito que ainda estão em vigor.
Não há uma estrutura regulatória para o Uber em Buenos Aires, incluindo a forma de o governo cobrar impostos sobre as corridas.
Macdonald disse que o Uber aceita regulamentação favorável e que aceitar cartões de crédito locais é uma prioridade, o que fará com que mais motoristas paguem sua comissão de 25 por cento, mas também possam aumentar os negócios da Uber.
(Reportagem adicional Miguel Lo Bianco e Heather Somerville)