Diego Agúndez.
Nova Délhi, 29 mar (EFE).- Os líderes do grupo Brics (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul) acordaram nesta quinta-feira estudar a criação de um banco próprio de desenvolvimento, entre os pedidos de paz no Oriente Médio e de um sistema multilateral no mundo.
Os países do grupo reúnem 43% da população mundial e 25% da riqueza, e segundo lembrou em Délhi a presidente Dilma Rousseff, geraram 56% do crescimento econômico registrado no mundo nos últimos anos.
Até a capital indiana viajaram também os presidentes chinês, russo e sul-africano - Hu Jintao, Dmitri Medvedev e Jacob Zuma - que foram recebidos pelo primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, em um luxuoso hotel para uma sessão de apenas um dia.
No documento final, batizado como "Declaração de Délhi", os líderes confiam em um "futuro de paz, progresso social e econômico e mentalidade científica", mas também mostram sua preocupação com a "incerteza" na economia, pela crise na eurozona.
Com o objetivo de melhorar seus intercâmbios comerciais, os Brics acordaram estudar daqui a um ano a criação de um banco de desenvolvimento para financiar projetos próprios, e assinaram dois acordos de crédito, entre eles um que valida o uso de moedas locais.
"Somos economias grandes e devemos fazer esforços especiais para explorar nossa complementaridade. É de nosso interesse eliminar as barreiras comerciais", afirmou o primeiro-ministro da Índia durante seu discurso na sessão plenária.
O comércio entre os países do grupo cresce a um ritmo de 28% ao ano e já é de US$ 230 bilhões - com o objetivo de chegar a 500 bilhões em 2015 -, mas os analistas afirmam frequentemente que a agenda internacional de seus membros apresenta grandes diferenças.
Nesta quinta-feira, no entanto, os Brics se mostraram de acordo em pedir às economias avançadas que adotem políticas "responsáveis" e reformas estruturais, e alertaram sobre um possível "grande fluxo" de capital especulativo que poderia afetar os países emergentes.
Além disso, como já fizeram no passado, exigiram uma reforma mais rápida e que dê mais peso ao Fundo Monetário Internacional, e pediram ao Banco Mundial que "promova relações de igualdade" entre países, ao invés de "mediar entre o 'norte' e o 'sul'".
"Foi feito algum progresso nas instituições financeiras internacionais - afirmou Singh -, mas não há movimento no aspecto político. Os Brics deveriam falar com uma só voz em assuntos importantes, como a reforma do Conselho de Segurança da ONU".
"O sistema internacional já não tem relações de subordinação", disse Dilma na sessão plenária perante os membros de suas delegações e centenas de jornalistas credenciados para a cúpula, a quarta do grupo.
Dilma criticou a "escalada retórica" com relação ao Irã e seu interesse em adquirir energia nuclear. Na declaração conjunta, os Brics afirmaram que o país asiático tem "direito a seu uso pacífico", embora tenham pedido uma atuação responsável.
A cúpula chega em um momento delicado nas relações com o Irã, porque os Estados Unidos iniciaram uma política de sanções à compra de petróleo iraniano, perante a oposição da Índia e da China, que são os principais compradores de petróleo desse país.
"Não se deve permitir que a situação do Irã chegue a um conflito cujas consequências desastrosas não seriam do interesse de ninguém", afirmaram os Brics em sua declaração final, na qual também pedem o "fim imediato da violência na Síria".
A conferência de Délhi ficou marcada pela morte de um jovem tibetano, que ateou fogo contra o próprio corpo na segunda-feira em protesto contra a visita de Hu, que sem fazer alusão ao incidente, classificou o grupo como "defensor do mundo em desenvolvimento".
O Bric - sem a África do Sul - foi concebido em 2001 pela empresa americana Goldman Sachs, embora os países não tenham assumido a ideia oficialmente até 2008, e o país africano tenha sido incorporado no ano passado para dar alguma representação a seu continente.
"Do ponto de vista logístico, a organização foi muito boa. Teremos outros encontros mais difíceis", afirmou à Efe o porta-voz indiano de Relações Exteriores, Syed Akbarudín. EFE