Por Luciana Bruno
SÃO PAULO (Reuters) - A situação de fraqueza econômica e a tendência de maior uso de aplicativos de mensagens pela Internet têm contribuído para a queda da base de linhas celulares em uso no Brasil, uma tendência que deve permanecer pelo menos até o fim deste ano, segundo analistas.
A redução da base total é provocada por uma queda no número de celulares pré-pagos, que não está sendo compensada em volume pelo aumento das linhas pós-pagas.
Segundo especialistas, esse fenômeno ocorre porque muitos dos usuários que tinham chips das quatro principais operadoras para economizar com ligações dentro da mesma rede de telefonia estão optando por ficar apenas com um ou dois chips que utilizam mais, de forma a não terem de recarregar sazonalmente todos eles com crédito.
Além disso, o uso cada vez mais disseminado de aplicativos de mensagens pela Internet como Whatsapp, que atrela as conversas dos usuários a um único número de telefone, acaba intensificando a tendência de redução do número de chips por usuário.
"O mercado de celular brasileiro já está saturado, estamos com penetração de 148 por cento", disse Ari Lopes, analista da consultoria de telecomunicações Ovum.
"É muito comum as pessoas terem dois ou três chips. Agora, estão desconectando o segundo e o terceiro, por conta do maior uso de mensagens (pela Internet)", completou Lopes.
Na quinta-feira, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) informou que a base de telefonia celular do Brasil em agosto voltou a cair, com o número de linhas móveis recuando em 1,42 milhão sobre julho e encerrando o mês em cerca de 280 milhões.
O recuo foi o terceiro consecutivo desde maio, em um movimento em que as operadoras estão vendo redução da base de linhas pré-pagas, menos rentáveis que as pós-pagas. Desde maio, a base total do país teve redução de 4,132 milhões de linhas celulares.
Para 2015, a Ovum prevê estabilidade frente ao ano passado, quando a base ficou em 280,7 milhões de acessos móveis. Segundo o analista da consultoria, a queda do pré-pago e do uso de voz e SMS tem afetado negativamente a receita por usuário das operadoras, já que a alta do faturamento com dados ainda não compensou esse declínio.
"O pré-pago deve continuar encolhendo até o fim do ano. Hoje a participação (na base total) está em 74 por cento, deve se estabilizar em 70 por cento", declarou Eduardo Tude, presidente da consultoria especializada Teleco. "A situação econômica ruim ajuda essa tendência de queda", completou.
O analista da corretora XP Investimentos Celson Plácido também credita a redução da base ao cenário econômico deteriorado. "Mesmo tendo mais de um chip, o usuário precisa colocar crédito sazonalmente para conseguir ligar para a mesma operadora", declarou. "Então, há o problema econômico entre as pessoas de mais baixa renda, que cortam as operadoras que usam menos."
De fato, os dados da Anatel confirmam essa tendência. O indicador de densidade, que é a quantidade de acessos por 100 habitantes, teve queda nos últimos meses, passando de 138,23 em junho, para 136,86 em agosto.
(Por Luciana Bruno)