Investing.com - Metade brasileira, metade chinesa, a fintech de finanças CrediGO pretende se transformar em um super app de finanças nos próximos anos, ao oferecer serviços que vão desde a gestão financeira até a contratação de crédito e educação financeira.
Fundada em 2018 pelo brasileiro Bruno Chan e o seu sócio chinês Stone Zheng, o app conta hoje com 250 mil pessoas em sua base de usuários e tem a meta de alcançar mais de 2,3 milhões ao final de 2020.
Por meio da conexão do e-mail e de contas bancárias ao CrediGO, o usuário pode verificar o status geral das suas finanças, como faturas e boletos organizados por data de vencimento e fechamento, bem como parcelamentos futuros, limite de crédito, gastos e consulta de score de crédito.
Além disso, o aplicativo fornece opções de serviços de crédito e de empréstimos, de acordo com o perfil e histórico de gastos dos usuários.
Como é de acesso gratuito, o app tem se financiado por meio de comissões das vendas dos serviços dos seus parceiros (fintechs de crédito, bancos e instituições financeiras), em seu ambiente de marketplace.
Atualmente, as contas que podem ser conectadas ao app são as do Banco do Brasil, Bradesco, Santander, Caixa Econômica Federal e Itaú, além dos bancos digitais Nubank e Banco Inter.
Em entrevista à Investing.com, o sócio fundador da CrediGO Bruno Chan falou sobre a proposta da empresa, a sua avaliação do open banking no Brasil e como foi esse processo na China.
Investing.com - Qual é a proposta CrediGO?
Bruno Chan - A CrediGO é um aplicativo de finanças pessoais. Nosso posicionamento é ser um open banking antes do open banking e ser um super app de finanças que vai de ponta a ponta: desde gestão financeira, gestão de pagamentos, contratação de crédito, educação financeira e investimentos.
Na parte de gestão financeira, quando o usuário conecta todas as suas contas bancárias e e-mail, a ideia é mostrar como ele pode melhorar os seus gastos, quais os benefícios que ele têm, mas que não está utilizando, além de oferecer automatização de cobranças, avisando qual conta precisa ser paga em cada dia.
Nós também trabalhamos com a contratação de produtos financeiros, um marketplace de crédito. Então, se o meu usuário quer um empréstimo, um cartão de crédito, ou uma conta digital, eu vou oferecer o melhor produto para ele, de acordo com o seu histórico. A ideia é buscar um serviço já disponível no mercado e que faça mais sentido para o usuário.
Trabalhamos bastante também com score de crédito, tentando ensinar para as pessoas como funciona este mercado e como melhorar o seu score para ter acesso a produtos mais baratos no mercado.
Além disso, estamos com um produto em teste, chamado BoletoPago, onde o usuário vai conseguir pagar um boleto de consumo (Luz, Água, Internet e outros) por meio de parcelamento no cartão de crédito.
Inv.com - Como que a CrediGO se financia hoje?
BC - Nós temos um marketplace de crédito, onde geramos Leads (oportunidade de venda) para nossos parceiros e somos comissionados.
Inv.com - Dado que o processo de Open Banking ainda não está consolidado, quais bases de dados que a CrediGO utiliza hoje para ter acesso às informações dos seus clientes? Quais as limitações que a fintech ainda encontra neste processo?
BC - Por meio da conexão bancária realizada com o consentimento do usuário, conseguimos consolidar os dados transacionais em um só lugar. A pessoa precisa apenas informar os dados de acesso do Internet Banking do seu banco.
O desafio está na conscientização da população no que diz respeito ao uso dos dados, pois ainda existe muita insegurança por parte do brasileiro em entender que a senha do cartão, que possibilita transações, é diferente da senha do internet banking, que cria a conexão com o banco e apenas possibilita a visualização da conta.
Temos orgulho de ser um aplicativo que já nasceu dentro das normas da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais). Não apenas como fundador, mas como usuário também, sinto que existe uma necessidade de deixar o mais claro possível dentro do aplicativo que não vamos usar as informações de forma indevida, mas, sim, criando oportunidade para que as pessoas tenham mais controle do crédito e serviços adequados com o que podem gastar. Hoje já é possível ter acesso a produtos financeiros dentro da CrediGO, onde o usuário pode pedir cartão de crédito e empréstimo.
Inv.com - Como que foi o processo do Open Banking na China?
BC - Existe uma grande diferença sobre quem foi o protagonista do Open Banking na China. Para se ter uma ideia, no Brasil, na Coreia e no Reino Unido, foi o Governo o responsável pelas negociações envolvendo o Open Banking. Eles criaram um cenário de regulamentação envolvendo parcerias e providenciando uma plataforma para que os participantes possam usufruir.
No caso da China foi muito diferente. Quem movimentou o cenário foram os supers app como Alipay (Alibaba), Wechat Pay (espécie de pagamento em programa de mensagem WeChat, parecido com o Whatsapp, oriunda da Tecent). Isso fez com que existisse uma certa confiabilidade por parte do consumidor (usuário) final. Os órgãos reguladores e os bancos entraram depois, conforme a necessidade de mercado.
Inv.com - Como você avalia o processo do open banking aqui no Brasil?
BC - O open banking está sendo uma iniciativa pública do Banco Central (BC) que tem como objetivo, basicamente, facilitar a portabilidade de informações e dados de um banco para outro. Qual a consequência disso? O impacto é extremamente positivo. Pensando no consumidor, por exemplo, ele terá acesso a uma gama maior de produtos financeiros, com mais transparência, menos burocracia e menos custos, com a entrada de novos players no mercado.
Quanto mais acesso os bancos digitais e as fintechs tiverem sobre o histórico dos consumidores, maior o poder de precisão na hora de precificar novos produtos e serviços. Isso traz mais transparência para o mercado. Muitas vezes as pessoas acabam pagando taxas sem saber e sem ter necessidade. Com o desenvolvimento do open banking, aos poucos, as pessoas vão acabar entendendo em qual instituição faz mais sentido ter uma conta, um cartão, tomar empréstimos, etc.
Neste contexto, os grandes bancos, por sua vez, terão que trabalhar para melhorar o relacionamento e a experiência com o usuário. Agora, a competição não será restrita à oferta de serviços, mas, sim, na experiência. Ninguém quer mais passar horas nas filas dos bancos e ter que ir até à agência para ser atendido.