SANTA BARBARA (Reuters) - Quase toda startup de tecnologia quer a mesma coisa: mais dados. Mas na corrida para coletar todos os tipos de informação sobre os clientes, as tensões aumentam no Vale (SA:VALE5) do Silício sobre se essas práticas consistem em uma forma de vigilância que pode acabar sendo considerada invasivo pelos usuários.
Seja pedindo um Uber, escutando uma música, comprando online ou monitorando uma condição de saúde, os consumidores estão colocando à disposição uma quantia sem precedentes de informação para as empresas de tecnologia.
"Os dados que as empresas...têm sobre você são muito maiores que do você gostaria", disse Mark Suster, sócio-gestor da Upfront Ventures, em entrevista em conferência em Santa Bárbara, na Califórnia, patrocinada pela CB Insights.
As discussões durante o evento de dois dias se concentraram na importância do 'big data', que se refere à enorme quantidade de informação armazenada e analisada pelas empresas.
Coletar dados ajuda o Airbnb, por exemplo, a saber se os clientes preferem viajar para praia ou para regiões montanhosas, enquanto o Uber descobre locais populares para desembarque de passageiros ou como precificar as corridas.
Reunir grandes quantias de dados também é fundamental para desenvolver inteligência artificial, uma das tecnologias mais pesquisadas no Vale do Silício, que ensina máquinas a tomar decisões que antes cabiam aos humanos.
A inteligência artificial pode, por exemplo, ajudar um consumidor a decidir sobre um novo par de sapatos, um médico a diagnosticar uma doença e um carro a se locomover sem motorista. Mas dúvidas persistem sobre quanta informação pessoal essas startups estão coletando e quão segura é a armazenagem, com quem elas a compartilha e como pretendem usá-la.
"Vamos nos sentir confortáveis com um nível de vigilância que nunca nos deixou confortáveis, porque torna as coisas mais simples", afirmou Jeremy Liew, da Lightspeed Venture Partners.
Algumas startups passaram do limite. O Uber enfrenta investigação da procuradora geral de Nova York sobre uma função internamente conhecida como "Visão de Deus", que permitia aos funcionários acessar e rastrear a localização de indivíduos sem obter permissão. A empresa encerrou o caso e concordou em criptografar os dados de geolocalização dos clientes.
Segundo Peter Coles, economista-chefe do Airbnb, disse que os dados que sua empresa armazena são benignos. "Eu acho que é muito improvável coletarmos algo sobre os usuários que os deixassem surpresos".
Ainda assim, não está claro como se sentem as gerações mais jovens, que cresceram com aplicativos como Facebook e Snapchat que encorajam compartilhar sua privacidade. "As pessoas não ligam tanto quanto dizem", disse Dave McClure, sócio-fundador da 500 Startups. "A conveniência geralmente ganha da privacidade".
(Por Heather Somerville)