Por Andrés González
SANTANDER, Espanha, 1 Set (Reuters) - A espanhola Telefónica planeja sair da Telecom Italia após o grupo espanhol finalizar a compra da unidade brasileira de banda larga da francesa Vivendi, a GVT, disse o presidente do Conselho da companhia, César Alierta, nesta segunda-feira, encerrando uma participação de muito tempo e reduzindo preocupações concorrenciais.
Relações tensas entre as companhias da Espanha e da Itália culminaram na semana passada quando a Telefónica venceu a Telecom Italia em uma disputa pela compra da GVT, um golpe contra a companhia italiana que pode transformá-la um alvo de aquisição em uma indústria que se consolida rapidamente.
"Após a operação da GVT a mensagem é clara, não queremos permanecer na Telecom Italia", disse Alierta para jornalistas após participar de uma conferência sobre telecomunicações em Santander, no norte da Espanha.
A Telecom Italia não quis comentar.
A Telefónica já tomou medidas nos últimos meses para vender parte de sua fatia na Telecom Italia, que detém por meio da holding Telco. A empresa espanhola deterá 8,3 por cento dos direitos a voto na Telecom Italia depois de converter um bônus de três anos conversível em ações da Telecom Italia.
A Telefónica ofereceu estes direitos remanescentes à Vivendi como parte de sua oferta em dinheiro e ações pela GVT na semana passada totalizando 7,45 bilhões de euros (9,8 bilhões de dólares), sinalizando que estava pronta para cortar laços com a Telecom Italia.
A Telefónica disse que emitiria 3,4 bilhões de euros em novas ações para ajudar a financiar a parte em dinheiro do acordo com a GVT, mas Alierta disse que também pode usar ações detidas em tesouraria se as condições do mercado tornarem um aumento de capital muito difícil.
"Não estamos preocupados sobre o financiamento do acordo com a GVT. Obviamente, podemos usar nossas ações em tesouraria para determinados fins... e se o mercado ficar histérico porque tanques russos estão entrando na Ucrânia, não é 'culpa' de nossos acionistas", disse.
Os mercados europeus estão mirando a escalada das tensões na Ucrânia, que anunciou nesta segunda-feira que suas forças estão novamente sob fogo de tanques russos.
PREOCUPAÇÕES REGULATÓRIAS
Deixar sua participação na Telecom Italia ajudaria o grupo baseado em Madri a acalmar reguladores sobre a concorrência no Brasil, seu segundo maior mercado atrás da Espanha em termos de geração de caixa.
A Telefónica controla Vivo, operadora de telefonia líder no Brasil, que compete diretamente contra a unidade local da Telecom Italia, a TIM Participações.
Em dezembro, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deu 18 meses à Telefónica para vender sua fatia na Telecom Italia ou buscar um novo parceiro para a Vivo.
As italianas Intesa Sanpaolo, Mediobanca e Generali formaram em 2007 a holding Telco com a Telefónica, com a meta de afastar uma oferta de aquisição da Telecom Italia pelo grupo norte-americano AT&T e pelo magnata russo Carlos Slim.
Apesar de o movimento, que foi estratégico para a Telefónica, ter obtido sucesso ao evitar uma aquisição norte-americana da Telecom Italia, acabou sendo um investimento deficitário.
Agora a Vivendi deve aceitar a chance de assumir 5,7 por cento das ações da Telefónica na Telecom Italia, ou 8,3 por cento dos direitos a voto, disseram fontes à Reuters, e também pode acabar se tornando o maior investidor na companhia italiana.
Analistas têm especulado que, mais tarde, a Vivendi também pode comprar a participação dos investidores italianos.
Os sócios italianos da Telco também afirmaram que venderiam eventualmente suas ações na Telecom Italia, que totalizam uma fatia combinada de 7,6 por cento.