SAN FRANCISCO, Estados Unidos (Reuters) - Com a recente aquisição da empresa de tecnologia de caminhões autônomos Otto, a Uber Technologies está se preparando para ingressar no mercado de transporte de cargas.
A Otto planeja crescer sua frota de caminhões autônomos de seis para cerca de 15 veículos e está promovendo parcerias com caminhoneiros independentes, disse o co-fundador da Otto Lior Ron, em entrevista à Reuters. A partir do próximo ano, caminhões com a marca da Otto e outros equipados com a tecnologia da empresa começarão a fazer transporte de carga entre armazéns e lojas, afirmou o executivo.
A Uber já começou a oferecer serviços para transportadores, frotas de caminhões e caminhoneiros independentes. Os serviços vão além do objetivo inicial da empresa de equipar caminhões com tecnologia de direção que não precisa de motorista. A empresa agora planeja competir com os agentes que intermediam contato entre frotas de caminhões e donos de cargas.
Caminhões totalmente autônomos estão a anos de distância de se transformarem em realidade. Os veículos da Otto atualmente são manejados por um motorista e um engenheiro. Mas Uber e Otto desenvolvem outras tecnologias que incluem navegação, mapeamento e rastreamento de veículos, que podem ser implementadas enquanto o trabalho em sistemas de direção autônoma prossegue.
A Uber tem como meta transformar o fragmentado e competitivo mercado de transporte rodoviário dos Estados Unidos, avaliado em 700 bilhões de dólares por ano. A companhia está desafiando uma série de empresas estabelecidas no segmento, desde grandes nomes negociados em bolsa como a companhia de logística C.H. Robinson e XPO Logistics, a inúmeras empresas menores de transporte.
No Brasil, a empresa iniciante CargoX, que se define como transportadora de carga sem frota de veículos própria, já está se desenvolvendo no segmento desde o lançamento de operações em março. A empresa tem entre os investidores um co-fundador do Uber e passou recentemente por uma segunda rodada de capitalização liderada pelo banco norte-americano Goldman Sachs.
Ron afirmou à Reuters que a Otto quer fazer parcerias com a indústria e que milhares de motoristas independentes donos de seus próprios caminhões contataram a companhia.
"Estamos conversando com todo mundo", disse ele. "Não queremos desenvolver tecnologia apenas pelo propósito de criar tecnologia", disse Ron.
A Uber comprou a Otto em um acordo de 680 milhões de dólares. A Otto tem cerca de 100 funcionários, sendo lançada em janeiro deste ano.
Apesar do apoio da marca e das finanças da Uber, especialistas da indústria se mostram céticos sobre as chances de uma empresa iniciante do Vale (SA:VALE5) do Silício com pouca experiência em transporte poder abalar o setor de transporte rodoviário.
"A indústria de transporte é um negócio baseado em relacionamentos", disse Kevin Abbott, vice-presidente da C.H. Robinson. "Há muito mais do que apenas equipamento."
Abbott citou que a Uber é apenas a mais recente empresa em uma longa fila de companhias que tentaram tomar o lugar dos operadores de carga que encontram caminhões para transportar produtos.
Além disso, Uber e Otto também enfrentam concorrência de uma crescente safra de empresas iniciantes de olho no setor. Companhias como Transfix, Convoy e Cargo Chief estão buscando superar operadores tradicionais de carga com ajuda de complexos algoritmos. Enquanto isso, a Trucker Path criou um aplicativo popular de navegação para caminhoneiros.
(Por Heather Somerville e Julia Love)