Por Megan Rowling e Alister Doyle
BARCELONA/OSLO (Thomson Reuters Foundation) - O novo acordo global sobre a mudança climática, que deve ser firmado em Paris em dezembro, precisa abrir caminho para um aumento ambicioso no financiamento para os países em desenvolvimento, à medida que aumentam os gastos relacionados ao clima, afirmou a diretora do principal fundo climático da ONU.
Muitos países veem o reforço do nascente Fundo Clima Verde (GCF, na sigla em inglês) como fundamental para o acordo, disse Héla Cheikhrouhou, diretora-executiva do fundo, à Thomson Reuters Foundation em entrevista.
"A clareza sobre o caminho do crescimento no nível de recursos financeiros por meio do Fundo Clima Verde será um ingrediente essencial de um acordo bem-sucedido", disse Héla na Coreia do Sul, onde o fundo está sediado.
No final do ano passado, 33 governos prometeram quase 10,2 bilhões de dólares para o GCF, mas transformar essas promessas em contribuições de fato é um processo lento.
Até esta quinta-feira, cerca de 40 por cento dos valores prometidos foi coberto por acordos legais que especificam quando eles serão entregues, menos que a meta de 50 por cento estabelecida para o dia 30 de abril.
Héla afirmou não saber quanto dinheiro o fundo terá em seus cofres no momento da cúpula climática da ONU em Paris, mas espera que os governos delineiem planos para aumentar a contribuição ao fundo nessa ocasião e em outras reuniões internacionais cruciais para tratar do desenvolvimento sustentável em julho e setembro.
Após uma rodada inicial de promessas em 2014, o GCF incentivou doações adicionais em seu primeiro ciclo de arrecadação de fundos, que vai até 2018.
Até então, o total oferecido ao fundo deveria ser "significativamente mais que 10 bilhões de dólares", disse.
O fundo irá canalizar dinheiro para países vulneráveis às mudanças climáticas para ajudá-los a se adaptar a seus impactos, como eventos climáticos extremos e o aumento das marés, e para se desenvolverem de maneira limpa.
A diretora declarou que os países em desenvolvimento, começando por México e Gabão, deram a entender que contam com o apoio do GCF para implementarem os compromissos voluntários que todas as nações foram encorajadas a submeter para o novo acordo sobre a mudança climática.
CONFUSÃO DE 100 BILHÕES DE DÓLARES
Em 2009, governos ricos se comprometeram a mobilizar 100 bilhões de dólares por ano no financiamento climático até 2020 em apoio aos países vulneráveis. Até agora, proporcionaram um auxílio anual de poucas dezenas de bilhões de dólares.
Héla disse ser improvável que o acordo esperado em Paris –que não entrará em vigor até 2020– estabeleça uma nova meta maior do que os 100 bilhões de dólares.
"Neste momento, toda a atenção está em se chegar a algum nível de entendimento sobre como alcançar estes 100 bilhões de dólares – não acredito que ninguém esteja pensando para além disso", disse.
Ainda há muita confusão a respeito dos tipos de financiamento que podem ser incluídos na meta anual de 100 bilhões de dólares e de como esse valor será alcançado a partir dos níveis atuais, acrescentou.
Uma vez que o GCF comece a aprovar projetos de custeio no outono do hemisfério norte, isso irá ajudar a esclarecer o tema, disse.
Ela não descartou usar os recursos do fundo para tecnologias que poderia tornar a energia de combustíveis fósseis mais limpa. Grupos ambientalistas vêm exortando o GCF a declarar que não irá investir em carvão e em outros combustíveis fósseis.
A diretora disse que as tecnologias apoiadas pelo fundo devem ser compatíveis com as recomendações do painel climático da ONU, segundo as quais o mundo tem que viver dentro dos limites da meta de consumo de carbono, dois terços da qual já se esgotaram.
"Nosso mandato é promover uma mudança de paradigma que nos afaste das práticas de sempre... rumo ao desenvolvimento com baixas emissões", afirmou.
O impacto financeiro sobre os países em desenvolvimento está ficando mais pesado, já que se espera deles que se tornem mais resistentes aos impactos da mudança climática, que se preparem e reajam a desastres e que alcancem o desenvolvimento sustentável, disse Cheikhrouhou.
"Este não pode ser um jogo de soma zero – tem que haver crescimento no nível do financiamento destinado aos países em desenvolvimento", afirmou.