Por Corina Pons e Horaci Garcia e Borja Suarez
SAN CRISTOBAL DE LA LAGUNA, Espanha (Reuters) - Órfão durante um golpe em sua terra natal, a Guiné, o adolescente Moussa Camara embarcou em um barco de madeira com outros 240 migrantes, enfrentando uma viagem de 11 dias, metade dela sem comida e água potável, antes de chegar às Ilhas Canárias.
Vinte pessoas morreram no caminho e seus corpos foram jogados no mar, disseram os viajantes, vítimas de uma das rotas migratórias mais perigosas do mundo.
No entanto, quando Camara chegou, no dia 27 de outubro, exausto, faminto e com feridas causadas pelo sol, outro problema o assolou: a polícia o registrou como adulto e ele não foi autorizado a entrar em um centro para menores com as melhores oportunidades disponíveis.
"Somos crianças... eles nos traíram", disse ele com um amigo também classificado como adulto em uma antiga base militar nas montanhas de Tenerife, onde cerca de 2 mil migrantes aguardam transferência para a Espanha continental ou permissão para ir para outro lugar na Europa.
Embora fosse necessário um exame ósseo para comprovar sua idade, os documentos da Cruz Vermelha endossam a insistência de Camara de que ele tem 15 anos, e não 18, como disse a polícia, registrando tanto ele quanto seu amigo com a mesma data de nascimento, 1º de janeiro de 2005.
Classificá-lo como adulto significa que, em vez de receber apoio extra para encontrar moradia e educação até os 18 anos, ele será obrigado a se bancar sozinho quase imediatamente.
A confusão mostra o quão sobrecarregado o arquipélago espanhol está, disse o presidente das Ilhas Canárias, Fernando Clavijo, à Reuters, depois de um número recorde de 32 mil migrantes terem chegado até agora este ano.
“Não temos nem os recursos nem a calma para lidar com a avalanche que chega”, acrescentou, culpando a polícia por erros de processamento, uma vez que cerca de 100 menores por dia chegam ao arquipélago.
O governo nacional espanhol lavou as mãos em relação à questão e ofereceu apenas a realocação de 347 menores para outras regiões até dezembro, disse ele.
Os ministérios do Interior e da Migração encaminharam questões à Procuradoria do país.
A agência disse à Reuters que investigou 48 casos de suspeitas de menores em Las Raices nos últimos meses, dos quais quatro foram confirmados, 30 foram enviados para uma instituição para menores enquanto eram aguardados testes de idade e os outros 14 ainda estão em avaliação.
Além disso, a organização global de direitos humanos Anistia Internacional afirmou em um relatório de 3 de Novembro que 12 dos 29 migrantes entrevistados em centros para adultos nas Ilhas Canárias eram, na verdade, menores.
Para os menores erroneamente classificados como adultos, cabe encontrar uma instituição de caridade na qual se possa solicitar um teste ósseo em seu nome para determinar a idade, um processo que pode levar meses. Mas a Anistia afirmou que isso era injusto, e que tais testes só deveriam ser utilizados como último recurso se houvesse dúvidas sérias e nenhuma outra prova.
(Reportagem de Corina Pons, Horaci Garcia e Borja Suarez)