Por Hamid e Shalizi e Rupam Jain
CABUL (Reuters) - Os afegãos enfrentaram grandes atrasos nas zonas eleitorais e a ameaça de ataques para votar nas eleições parlamentares deste sábado, consideradas como um grande teste de credibilidade para o governo apoiado pelas potências ocidentais.
Um homem-bomba matou pelo menos 15 pessoas em Cabul, o mais sério de vários ataques que causaram dezenas de vítimas em todo o país, mas não deteve os eleitores de enfrentar longas filas para registrar seus escolhidos.
"Hoje o povo deu uma resposta inquestionável aos inimigos do Afeganistão", disse o porta-voz do governo, Haroon Chakansuri.
A votação já deveria ter sido encerrada quando o homem-bomba atacou uma zona eleitoral ao norte de Cabul, matando 10 civis e cinco policiais. Mesmo assim, os locais de votação tiveram que ser mantidos abertos por mais tempo para lidar com o comparecimento maior do que o normal.
A abstenção foi menor do que a prevista, com longas filas sendo formadas do lado de fora das zonas eleitorais das principais cidades, mas muitos eleitores tiveram que esperar demasiadamente em virtude de problemas técnicos ou organizacionais na votação.
"O entusiasmo do povo e o comparecimento, apesar das ameaças, intimidações e ataques de militantes devem ser exaltados hoje", afirmou uma autoridade internacional, que disse: "O processo de votação vai exigir grande escrutínio, já que ficou claro que houve múltiplas falhas".
Um equipamento de votação por biometria que não foi testado e acabou adotado de última hora para evitar fraudes causou vários problemas. A Fundação Para Eleições Transparentes no Afeganistão, um grupo civil, afirmou que os aparelhos tiveram problemas em mais de 40 por cento das zonas eleitorais.
"O maior problema é com as máquinas biométricas. Há algumas zonas em que elas não estão funcionando, e muitos eleitores foram embora", disse Nasibullah Sayedi, eleitor da cidade de Herat.
A Comissão Eleitoral Independente, órgão que organiza a eleição, disse que a hora de votação seria estendida em algumas zonas para atender a demanda, e que alguns locais, que nem sequer abriram, serão abertas no domingo.
Nos dias que antecederam a votação, militantes do Taliban emitiram uma série de comunicados pedindo para que as pessoas não participassem de uma votação que, segundo eles, é imposta por outros países, e que ataques poderiam ocorrer.
Autoridades disseram que houve mais de 120 ataques no total, mas que muitos não foram próximos às zonas eleitorais. O objetivo aparente era intimidar os eleitores, e não causar vítimas.
O cenário político afegão ainda está manchado pela votação presidencial de 2014, que forçou os dois principais grupos rivais a formar uma instável parceria. Ambos os lados foram acusados de fraude. Mas o grande comparecimento às urnas, pelo menos nas maiores cidades, reflete o forte apoio que o processo tem mesmo com as ameaças de ataques e a desilusão com a classe política.