Por Gabriel Stargardter
PARIS (Reuters) - Aliados da líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, acusaram o Judiciário de caça às bruxas e de interferir indevidamente na democracia, depois que os promotores solicitaram que ela enfrente uma proibição obrigatória de cinco anos de ocupar cargos públicos se for condenada por uso indevido de fundos da União Europeia.
A iniciativa dos promotores de buscar uma "execução provisória" da proibição de ocupar cargos públicos - uma ferramenta rígida e raramente utilizada que significa que a proibição permanecerá independentemente de qualquer recurso - lança dúvidas sobre as chances de Le Pen concorrer às eleições presidenciais de 2027.
Le Pen, líder do partido National Rally (RN), é amplamente vista como a principal candidata a ser a próxima presidente da França.
Atualmente, ela está sendo julgada, juntamente com o próprio RN e outras 24 pessoas, por supostamente usar fundos do Parlamento Europeu para pagar funcionários do partido na França - acusações que eles negam. Eles denunciam o caso como uma tentativa politicamente motivada de manter o RN fora do poder. O veredicto está previsto para o próximo ano.
"É um ataque à democracia", escreveu o chefe do partido do RN, Jordan Bardella, no X, depois que os promotores fizeram o pedido.
A resposta furiosa deles ecoa os frequentes ataques do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o sistema judiciário do país por causa das acusações que ele tem enfrentado desde seu primeiro mandato.
"Ser assediado pelo judiciário foi um passo crucial para a vitória do presidente Trump", escreveu o primeiro-ministro húngaro de direita, Viktor Orban, no X. "Marine, por favor, lembre-se de que estamos com você nessa batalha!"
Até mesmo alguns dos principais políticos franceses expressaram preocupação. Gerald Darmanin, que foi ministro do Interior do presidente Emmanuel Macron até setembro, escreveu no X que "seria profundamente chocante" se Le Pen não tiver permissão para se candidatar em 2027.
DECISÃO "POLITIZADA"?
Os promotores disseram que buscam uma "execução provisória" contra Le Pen e seus co-acusados por repetidos esforços para ganhar tempo em uma investigação que se estende por quase uma década. Uma proibição obrigatória impedirá a repetição de delitos, argumentam.
No caso de uma condenação, os juízes podem optar por rejeitar o pedido dos promotores.
Ludovic Friat, presidente da USM, o maior sindicato que representa os promotores e juízes franceses, disse que a decisão de solicitar uma "execução provisória" era incomum.
"É uma decisão que pode ser vista como politizada", disse ele, acrescentando que acreditava que os promotores a haviam usado "para dizer que o que aconteceu não era democraticamente aceitável".
Ainda não se sabe como Le Pen adaptará sua estratégia política. Seu esforço de anos para profissionalizar o RN, buscando se livrar de sua reputação de racismo e antissemitismo, contrasta fortemente com o movimento anti-institucional de Trump.
Os esforços de Le Pen foram recompensados: o RN é agora o maior partido no Parlamento da França e sustenta o fraco governo de coalizão do primeiro-ministro, Michel Barnier.
Patrick Weil, um historiador da extrema direita, duvidou que Le Pen adotará agora uma estratégia mais trumpiana. "Não acho que ela precise se tornar totalmente MAGA", disse ele. "Ela pode continuar dizendo que é uma vítima das elites."
"Le Pen pode agora ter um incentivo para encerrar o mandato de Emmanuel Macron como presidente já no próximo ano, unindo-se à aliança de esquerda", disse a EuroIntelligence. "A política é mais criativa do que os tribunais."