Por Ivan Lyubysh-Kirdey e Thomas Peter e Margaryta Chornokondratenko
RESHETYLIVKA, Ucrânia (Reuters) - Quando foi ferido em combates ferozes perto da cidade de Bakhmut, no leste do da Ucrânia, em março do ano passado, o soldado ucraniano Yevhenii Korinets pensou que fosse morrer.
"Eu quase disse adeus à vida", disse, à Reuters na cidade de Reshetylivka. "Havia um pensamento em minha mente: 'Tenho 25 anos, não fui a lugar nenhum, não viajei para lugar nenhum, não vi o mundo e agora estou morrendo'."
Dezessete meses depois, a vida de Korinets deu uma guinada.
O ex-paramédico militar, cuja perna esquerda foi amputada na altura do quadril, se classificou para a equipe nacional de vôlei sentado e falou durante uma pausa no treinamento com outros atletas antes dos Jogos Paralímpicos de Paris, que começaram na quarta-feira.
"Agora estou viajando, já estive em todos os lugares: Estados Unidos, China, países assim e, obviamente, também na Europa", disse Korinets no início de agosto, durante um intervalo nos treinos em uma academia na região central da Ucrânia.
Ele é um dos cerca de 140 atletas ucranianos que estão competindo nos Jogos Paralímpicos de 2024, uma competição que adquiriu maior importância após a invasão em grande escala do país pela Rússia, que deixou milhares de soldados e civis com ferimentos que alteraram suas vidas.
Os atletas russos e bielorrussos podem competir apenas como neutros, sem bandeiras, após sua participação em eventos esportivos globais ser severamente restringida após a invasão.
Para Korinets, o esporte tem sido de grande ajuda em sua recuperação após a perda de um membro, e ele incentiva outros veteranos de guerra a tentar.
A reabilitação deles na sociedade é um grande desafio para as autoridades após dois anos e meio de um conflito definido por intenso fogo de artilharia e campos de batalha altamente minados.
"Todos os tipos de esporte devem ser popularizados nas vilas e cidades para que os veteranos de guerra não fiquem em casa sem saber o que fazer", disse. "Os rapazes devem continuar ligando para ele, procurando-o, dizendo-lhe: 'Esta atividade está disponível, vamos treinar juntos, vamos lá, vamos'."
Korinets, de Zhytomyr, cidade na região central da Ucrânia, disse que foi direto para o escritório de recrutamento no dia em que os russos enviaram tropas para a Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Ele primeiro se juntou a um esquadrão de defesa encarregado de proteger infraestrutura crítica, antes de se mudar para a 30ª Brigada Mecanizada Separada como paramédico posicionado perto de Bakhmut.
A cidade foi palco de alguns dos confrontos mais ferozes da guerra até o momento, e a Rússia assumiu o controle de suas ruas arruinadas em maio do ano passado.
O desempenho da Ucrânia nas últimas Paralimpíadas superou em muito o da Olimpíada. A equipe paralímpica ficou em sexto lugar nos Jogos de Tóquio realizados em 2021 e em terceiro no Brasil em 2016.
Antes de partir para Paris, Korinets tinha apenas um objetivo.
"Vitória, não precisamos de mais nada."