WASHINGTON (Reuters) - O crescimento rápido da América Latina ao longo da última década ainda deixou um de cada cinco moradores da região vivendo com menos de quatro dólares por dia, declarou o Banco Mundial em um relatório nesta segunda-feira.
O documento, intitulado "Left Behind" (Deixados para Trás, em tradução livre), mostra pela primeira vez o estudo de vítimas da pobreza crônica na América Latina entre 2004 e 2012, separando-as das pessoas que se tornaram pobres depois de ter tido uma renda superior no passado e que "se movem para baixo".
Uma compreensão melhor das pessoas que continuam vivendo com rendas baixas ajuda a direcionar os programas de ajuda, e é ainda mais importante agora que os esforços de redução da pobreza na região estão sendo desacelerados em função do crescimento econômico mais fraco, disseram os autores do relatório.
O Banco Mundial prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina irá diminuir para 1,7 por cento este ano, tendo chegado a 6 por cento em 2010. Também neste ano, a Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou em um relatório que a redução da pobreza estacionou em toda a região, mal se alterando desde 2012.
Das 130 milhões de pessoas classificadas como cronicamente pobres, muitas vivem em áreas urbanas, onde é mais difícil localizá-las, embora iniciativas anteriores de redução da pobreza tenham se concentrado em áreas rurais, de acordo com os autores do documento.
Os índices de pobreza crônica também variam muito na região, indo de 50 por cento na Guatemala a meros 7,8 por cento no Uruguai.
Algumas das pessoas mais pobres se concentram em regiões específicas de um país, como no Ceará, que tem o dobro da taxa de pobreza crônica do Brasil como um todo.
O estudo do Banco Mundial descobriu que as pessoas continuam pobres não somente pela falta de educação formal, serviços de saúde ou saneamento básico, mas que a psicologia também pode entrar em jogo.
Por exemplo, um programa de prevenção e tratamento de tuberculose no Peru fracassou em algumas favelas de Lima até o governo incluir o aconselhamento psicológico para depressão.
"A pobreza pode colocar você em um estado de espírito difícil, e um estado de espírito difícil pode tornar mais difícil sair da pobreza", disse Jamele Rigolini, um dos autores. "Isso pode ser um círculo vicioso".
O relatório sugere que os programas condicionais de transferência de renda – como o Bolsa Família brasileiro, que exige que os filhos estejam estudando para que os pais recebam o benefício – podem não ser eficientes para alcançar todas as vítimas da pobreza.
"Acho que a região... está deixando para trás a transferência de renda condicional", opinou Rigolini. "Ela não bastou para tirar muitos da pobreza".
(Por Anna Yukhananov)