Por Sheila Dang e Akash Sriram e Joey Roulette e Nora Eckert
(Reuters) - O bilionário Elon Musk vai chefiar uma comissão de eficiência do governo com largo escopo caso o republicano Donald Trump seja eleito presidente dos Estados Unidos, potencialmente colocando o empresário em posição de mudar políticas corporativas do país, incluindo aquelas que integram a ampla gama de setores nas quais seu conglomerado atua.
Na quinta-feira, Trump anunciou o plano e o cargo de Musk, afirmando que gostaria de receber recomendações de “reformas drásticas”, a começar pelo combate à fraude e a pagamentos indevidos, que teria como alvo “todo o governo federal”.
A comissão daria a Musk – que comanda a empresa aeroespacial SpaceX, a montadora de carros elétricos Tesla (NASDAQ:TSLA), e as empresas de tecnologia X e xAI, entre outras – a prerrogativa de propor um governo mais enxuto, algo que os republicanos comumente defendem, mas também a chance de criar as regras que afetariam diretamente o seu trabalho e riqueza.
Musk sugeriu repetidas vezes a criação de uma comissão de eficiência durante uma conversa pública que teve com Trump pela rede social X, em agosto, dizendo que o gasto do governo deve ser reduzido para níveis sensatos, e que estava disposto a ajudar. O ex-presidente e candidato republicano respondeu que Musk era o “maior cortador” de empregos.
Comissões presidenciais foram criadas para abordar diversos assuntos, como a que o atual presidente, Joe Biden, criou para examinar a ideia de reformar a Suprema Corte, disse Nikolas Guggenberger, professor assistente de Direito na Universidade de Houston, cujo trabalho foca em políticas antitruste, o arcabouço legal e a tecnologia. Mas as diversas relações de Musk com o governo dos EUA, avaliadas em bilhões de dólares, mudam o quadro.
"Ele tem uma grande empresa que vende veículos elétricos, ele tem uma grande empresa que vende satélites, ele tem uma plataforma de redes sociais. Em todas essas áreas, você pode imaginar os conselhos sendo manchados pelo fato de ele ter um forte interesse econômico”, afirmou Guggenberger.
Trump deu poucos detalhes sobre como a comissão funcionaria, mas a descreveu como responsável por auditorias e recomendações, algo já tentado no passado.
“Já houve muitas, muitas auditorias feitas e recomendações dadas no que tange a eficiência”, disse Cristina Chaplain, ex-diretora do Gabinete de Prestação de Contas do governo.
Além disso, é difícil mudar leis e regramentos. Embora pessoas do mundo dos negócios possam trazer uma nova perspectiva ao governo, ela acrescentou “que elas frequentemente são confrontadas pela realidade das operações governamentais, e as leis e regulamentos que as afetam”.
Musk reclama há anos do que considera ineficiência governamental. Suas próprias empresas são altamente reguladas: a SpaceX precisa obter aprovações para lançamentos de foguetes e novas tecnologias. As montadoras de automóveis sofrem forte escrutínio quanto à segurança dos carros autônomos da Tesla. As agências de saúde precisam aprovar o trabalho feito pela sua startup Neuralink em relação à tecnologia de implantes cerebrais.
Mas alguns investidores concordam com a sua influência em Washington: “Musk arrumou a casa no Twitter. Ele poderia também cortar os gastos governamentais”, disse o analista Dennis Dick, da Triple D Trading, que investe há tempos na Tesla, referindo-se aos cortes de empregos feitos por Musk na plataforma de redes sociais.
Musk não respondeu a um pedido de comentário, mas disse no X que a comissão de eficiência é “altamente necessária”.
(Reportagem de Sheila Dang em Dallas, Akash Sriram em Bangalore, Joey Roulette em Washington e Nora Eckert em Detroit; reportagem adicional de Abhrirup Roy em São Francisco e Ben Klayman em Detroit)