Por Angus Berwick e Mariela Nava
CARACAS/MARACAIBO, Venezuela (Reuters) - Os esforços vacilantes do líder venezuelano de oposição Juan Guaidó para derrubar Nicolás Maduro enfrentam agora um novo desafio na forma de um escândalo de tráfico de influência que deixou venezuelanos desiludidos, ponderando se o momento de Guaidó já passou.
No último domingo Guaidó disse que o Congresso, controlado pela oposição, investigaria as supostas irregularidades entre suas fileiras após o website Armando.info reportar que nove parlamentares de oposição haviam trabalhado para um empresário ligado ao governo Maduro.
Para uma dúzia de venezuelanos entrevistados pela Reuters por todo o país, o escândalo representa mais um golpe à reputação de Guaidó e às esperanças de ver pelas costas o impopular Maduro, que governa o país durante uma crise econômica que já dura cinco anos, enquanto o Estado se mostra cada vez mais autoritário.
Para Mario Silva, um engenheiro que esperava em um ponto de ônibus da empobrecida cidade de Maracaibo, é hora de seguir em frente. "Guaidó perdeu seu momento", disse o homem de 60 anos de idade.
Quando Guaidó se declarou presidente interino do país em janeiro, em um desafio ousado a Maduro, Silva se juntou a milhões de venezuelanos que celebravam a chegada de um político de "cara nova" que teria unido a fragmentada oposição do país e estava intocado por escândalos anteriores.
Silva havia apoiado a "revolução socialista" liderada por Hugo Chávez no país, e por um tempo apoiou seu sucessor, Maduro, até que, segundo ele, a pobreza e a corrupção generalizada na Venezuela se tornaram óbvias demais para que fosse ignoradas.
"Eu via Guaidó como uma salvação para o país, mas ele, como Chávez, me decepcionou", disse Silva.
Guaidó foi reconhecido por mais de 50 países como o líder legítimo da Venezuela. Mas, apesar do aumento das sanções aplicadas pelos Estados Unidos, Maduro reteve o apoio dos militares e o controle do aparato estatal.
No mês passado, Guaidó teve dificuldades para iniciar uma nova onda de protestos de rua. O comparecimento foi pequeno perto do que havia sido registrado no início do ano.
O embalo enfraquecido do líder levou a alguns de seus colegas parlamentares a buscarem uma nova batalha pelo comando, embora muitos deles ainda não tenham começado a criticá-lo publicamente, de acordo com entrevistas com analistas e políticos.
"A realidade política que temos na Venezuela nos últimos 10 meses acabou", disse Dimitris Pantoulas, um analista político baseado em Caracas.
Emilio Grateron, coordenador nacional do partido Vontade Popular de Guaidó, disse em entrevista que Guaidó continuava o "líder indisputável" da oposição, mas reconheceu que o escândalo abria uma "ruptura".
No domingo o site Armando.info, um veículo de imprensa focado na Venezuela, reportou que nove parlamentares haviam escrito cartas de recomendação ao Tesouro norte-americano e outros para um homem colombiano chamado Carlos Lizcano, que é investigado por possíveis ligações com Alex Saab, um outro colombiano que está sofrendo sanções dos Estados Unidos.
Entretanto, segundo a publicação, os parlamentares escreveram as cartas sabendo das evidências que ligavam Lizcano a Saab, que é acusado de corrupção associada com o programa estatal de distribuição de alimentos do governo Maduro.