Por Dave Sherwood e Natalia A. Ramos Miranda
SANTIAGO (Reuters) - Milhares de chilenos se reuniram nas praças do centro de Santiago nesta segunda-feira para protestar contra o alto custo de vida após um fim de semana de saques, incêndios criminosos e confrontos com forças de segurança que deixaram 11 mortos e levaram o presidente Sebastián Piñera a declarar o país "em guerra" com vândalos.
As linhas de ônibus e metrô foram parcialmente restauradas para que as pessoas voltassem ao trabalho, mas muitos optaram por participar das maiores manifestações em anos no que normalmente é um dos países mais estáveis da América Latina.
A crise foi desencadeada por protestos sobre a alta nas tarifas de transporte público, mas reflete a irritação fervilhante sobre a intensa desigualdade econômica no Chile, bem como os dispendiosos sistemas de saúde, educação e pensões, vistos por muitos como inadequados.
Batendo tambores e panelas, assobiando e muitos com placas pedindo a saída de Piñera, a multidão em geral jovem e pacífica lotou a Plaza Italia de Santiago e transbordou pelas ruas nos arredores, observada de perto por soldados e policiais. Helicópteros sobrevoavam o protesto.
"Piñera, ouça! Vá para o inferno!", gritavam os manifestantes.
José Jimenez, de 33 anos, cineasta que participava do protesto, disse à Reuters que era difícil prever o que viria a seguir.
"Algo se quebrou", afirmou ele. "O governo mostrou-se completamente inepto e até que haja uma maneira de responder ou conter essa situação, acho que só vai continuar crescendo."
Camila Tapia, estudante de 23 anos do pobre bairro de La Pintana, em Santiago, disse que estava lá para representar seus pais idosos, ex-trabalhadores braçais. "Estou aqui por causa dos meus pais e por causa do meu filho, porque não aguentamos mais, estamos cansados de injustiça", declarou ela. "E é tudo: saúde, educação, moradia ..."
TOQUE DE RECOLHER
Um novo toque de recolher foi anunciado por Javier Iturriaga, general encarregado da segurança de Santiago, a partir das 20h de segunda-feira até as 6h da manhã de terça na cidade.
Várias cidades chilenas foram colocadas em estado de emergência, com o controle entregue às Forças Armadas após saques, incêndios criminosos e confrontos violentos iniciados na sexta-feira.
Autoridades disseram no domingo que a indústria de mineração de cobre do país, a maior do setor no mundo, estava operando normalmente, embora o sindicato dos trabalhadores das minas de cobre tenha anunciado uma greve de um dia na terça-feira em solidariedade aos protestos.
O ministro das Finanças, Felipe Larrain, disse que a agitação civil "sem dúvida" terá um impacto "significativo" na economia.
O ministro da Saúde, dr. Jaime Manalich, afirmou que 239 civis ficaram feridos em três dias de manifestações, enquanto o número de mortos foi atualizado para 11. O ministro do Interior, Andres Chadwick, disse que um homem morreu por ferimentos a bala na província de Coquimbo, no norte.
Piñera e seus ministros disseram que os ataques de vandalismo e incêndio criminoso a empresas e propriedades são coordenados.
"Estamos em guerra contra um inimigo poderoso, que está disposto a usar a violência sem limites", declarou Piñera em pronunciamento televisionado na noite de domingo no quartel-general do Exército em Santiago.
A chefe de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile, pediu nesta segunda-feira investigações independentes sobre as mortes nos protestos, citando "alegações perturbadoras" do uso excessivo da força pelas forças de segurança.