Por Mark Heinrich
LONDRES (Reuters) - Árabes e muçulmanos no Oriente Médio condenaram nesta quarta-feira o reconhecimento pelos Estados Unidos de Jerusalém como capital de Israel, chamando a iniciativa de uma medida incendiária numa região volátil, e palestinos disseram que Washington estava abandonando o seu papel de liderança como mediador de paz.
A União Europeia e a Organização das Nações Unidas também manifestaram inquietação com a decisão do presidente Donald Trump de transferir a embaixada dos EUA para Jerusalém e as consequências disso para as chances de se retomar o processo de paz entre israelenses e palestinos.
Importantes aliados dos EUA se posicionaram contra a mudança promovida por Trump na política de décadas do país e do mundo em relação a Jerusalém.
A França rejeitou a decisão “unilateral”, ao mesmo tempo que fez um apelo por calma na região. O Reino Unido afirmou que a medida não ajuda os esforços de paz e que Jerusalém deve no final ser compartilhada entre Israel e um futuro Estado palestino. A Alemanha afirmou que o status da cidade poderia ser resolvido com base na solução dos dois Estados.
Israel, por sua vez, celebrou a medida de Trump. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou numa mensagem de vídeo gravada que a decisão “era um passo importante” e que era o “nosso objetivo desde o primeiro dia de Israel”.
Ele acrescentou que qualquer acordo de paz com os palestinos deveria considerar Jerusalém capital israelense e pediu que outros países seguissem o exemplo de Trump.
Jerusalém abriga locais sagrados para muçulmanos, judeus e cristãos. A parte oriental da cidade, capturada por Israel na guerra de 1967, é reivindicada pelos palestinos para ser a capital do Estado independente que eles buscam formar.
Israel considera Jerusalém a sua capital eterna e indivisível, datando da antiguidade, e seu status é uma das barreiras mais espinhosas para uma paz entre israelense e palestinos.
Em discurso gravado, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, declarou que Jerusalém é a “capital eterna do Estado Palestino” e que a decisão de Trump “equivale aos EUA abdicarem do seu papel como mediador de paz”.
A última rodada de negociações de paz mediada pelos EUA fracassou em 2014.
O grupo islâmico palestino Hamas, que tomou o controle de Gaza logo depois de Israel terminar com a ocupação de 38 anos em 2005, disse que Trump havia cometido uma “agressão clara contra o povo palestino”. O Hamas pediu que árabes e muçulmanos “enfraqueçam os interesses dos EUA na região” e “marginalizem Israel”.
O presidente do Líbano, Michel Aoun, afirmou que a decisão sobre Jerusalém é perigosa e ameaça a credibilidade dos EUA como mediador de paz no Oriente Médio. Ele disse que a decisão atrasaria o processo paz em décadas e ameaçava a estabilidade regional e talvez a mundial.
O ministro do Exterior do Catar, o xeque Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, declarou que a medida de Trump é uma “sentença de morte para todos que buscam a paz”.
O Egito, que fez o primeiro acordo de paz árabe com Israel em 1979, rejeitou a decisão de Trump e disse que ela não muda a disputa sobre o status de Jerusalém.
A Jordânia, que em 1994 foi o segundo Estado árabe a alcançar a paz com Israel, disse que a ação de Trump é “legalmente nula”.
A Turquia chamou a medida de “irresponsável”.
"Fazemos um apelo ao governo dos EUA para reconsiderar essa decisão falha que pode levar a resultados altamente negativos e para evitar passos não calculados que irão trazer danos à identidade multicultural e ao status histórico de Jerusalém”, disse o ministro do Exterior turco em comunicado.