Por Lucila Sigal e Miguel Lo Bianco
BUENOS AIRES (Reuters) - Um novo clima de inquietação tomou conta da Argentina nesta sexta-feira, quando cidadãos acordaram abalados após um atentado com arma contra sua vice-presidente, Cristina Fernández de Kirchner, que saiu ilesa devido a um defeito mecânico.
O agressor apontou a arma --que as autoridades disseram estar carregada-- para Cristina do lado de fora da casa dela no centro de Buenos Aires, à queima-roupa, mas a arma não disparou.
Políticos de todos os segmentos da Argentina condenaram o ataque, que aconteceu em meio a tensões políticas agudas, conforme o país afunda ainda mais em uma crise econômica impulsionada por dívidas e inflação descontroladas.
Horacio Rodríguez Larreta, prefeito da oposição da cidade de Buenos Aires, chamou de "um ponto de virada na (nossa) história democrática", ecoando comentários semelhantes do presidente Alberto Fernández em um discurso noturno e exigindo justiça rápida.
O papa Francisco falou por telefone com a vice-presidente para expressar sua solidariedade, disse um comunicado de Cristina Kirchner. Líderes da região também criticaram o ataque.
"Foi deplorável, repreensível, mas ao mesmo tempo, eu diria, milagroso, porque ela está bem", disse o presidente mexicano de esquerda Andrés Manuel López Obrador.
Figura divisiva, Cristina Kirchner enfrenta acusações de corrupção ligadas a um suposto esquema de desvio de recursos públicos enquanto foi presidente, entre 2007 e 2015. Um promotor pediu uma sentença de 12 anos de prisão contra ela.
Cristina nega irregularidades e seus apoiadores foram às ruas e se reúnem diariamente do lado de fora de sua residência.
Mais tarde, o gabinete do presidente Fernández pediu o fim de uma "retórica de ódio", enquanto Rodríguez Larreta acrescentou: "Hoje, mais do que nunca, todos os argentinos precisam trabalhar juntos pela paz".
O ataque foi transmitido em todo o país por meio de imagens de TV ao vivo que mostraram a arma sendo apontada para o rosto de Cristina Kirchner, antes de ela se abaixar e cobrir o rosto com as mãos.
Oscar Parrilli, senador da coalizão governista próximo à vice-presidente, disse à rádio local que ela estava em choque, mas que "por sorte, tem seu espírito, seu temperamento intacto".
A polícia prendeu um suspeito que eles disseram ser Fernando Andrés Sabag Montiel, um brasileiro de 35 anos.
"Felizmente a bala não saiu porque as consequências poderiam ter sido muito piores", disse Florencia Suera, uma trabalhadora de 22 anos de Buenos Aires.
Oscar Delupi, de 64 anos, funcionário ferroviário da capital, culpou as divisões políticas pelo desencadeamento da violência.
"A sociedade já perdeu um pouco a calma, a mensagem de ódio que a oposição emite está se tornando cada vez mais feroz", disse ele.
(Reportagem de Lucila Sigal e Miguel Lo Bianco)