Por Philip Pullella
CIDADE DO VATICANO (Reuters) - O Vaticano abrirá seus arquivos sobre o pontificado dos tempos de guerra de Pio 12 no dia 2 de março para permitir que estudiosos investiguem as acusações de que ele fez vista grossa ao Holocausto, mas eles descobrirão que ele ajudou judeus nos bastidores, disseram autoridades da Santa Sé.
"Não acho que vocês encontrarão uma prova cabal", disse o padre Norbert Hofmann, principal autoridade do Vaticano a cargo de relações religiosas com os judeus, à Reuters durante uma entrevista em seu escritório.
Há anos os judeus buscam transparência do Vaticano em relação às suas ações durante o Holocausto, e a ordem do papa Francisco de abrir os arquivos permitirá que historiadores e outros estudiosos os vasculhem pelos próximos anos.
Há muito tempo alguns judeus acusam Pio, que foi papa entre 1939 e 1958, de fazer pouco pelas vítimas da perseguição da Alemanha nazista e por não se pronunciar com vigor contra o Holocausto, no qual cerca de seis milhões de judeus foram mortos.
O Vaticano diz que Pio trabalhou discretamente para salvar judeus, e assim não piorar a situação de muitos outros em risco, incluindo católicos em partes da Europa sob ocupação nazista.
Quando Francisco anunciou a abertura dos arquivos no ano passado, disse que a Igreja "não teme a história", um tema repetido na quinta-feira em uma apresentação de arquivistas do Vaticano aos repórteres.
O bispo Sergio Pagano, chefe dos Arquivos Apostólicos do Vaticano, disse que documentos do período da Segunda Guerra Mundial contêm milhões de páginas divididas em 121 seções divididas por tópicos.
A área de consulta dos escritórios dos arquivos podem acomodar 60 estudiosos por vez, e todo o espaço foi reservado pelo resto do ano, disse Pagano. Entre os estudiosos estão alguns do Museu e Memorial do Holocausto de Washington.
"Não emitiremos julgamentos por ora. Deixaremos isso para os estudiosos. O material está lá. Ele é diversificado", disse Pagano.
"Deixaremos que cada pessoa tire suas próprias conclusões, mas não temos nenhum temor. O bem (que Pio fez) foi tão grande que fará as poucas sombras encolherem."
David Kertzer, professor da Universidade Brown que escreveu vários livros sobre o papado e os judeus, disse que os estudiosos têm uma dívida com o Vaticano por disponibilizar os arquivos, mas que é preciso manter a mente aberta sobre o que pode ser encontrado neles.