Por Alasdair Pal e Sarah N. Lynch
SYDNEY/WASHINGTON (Reuters) - O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, deverá se declarar culpado de violar a lei de espionagem dos Estados Unidos, em um acordo que o libertará após uma odisseia jurídica britânica de 14 anos e permitirá que ele retorne à Austrália.
Assange, de 52 anos, concordou em se declarar culpado de uma única acusação criminal de conspirar para obter e divulgar documentos confidenciais de defesa nacional dos EUA, mostraram registros no Tribunal Distrital dos EUA para as Ilhas Marianas do Norte.
O acordo marca o fim de uma saga legal que viu Assange passar mais de cinco anos numa prisão de segurança máxima britânica e sete anos escondido na embaixada do Equador em Londres, enquanto lutava contra acusações de crimes sexuais na Suécia e contra a extradição para os EUA, onde enfrentava 18 acusações criminais.
O governo dos EUA o via como um vilão imprudente que colocou em risco a vida de agentes através da divulgação em massa de documentos secretos dos EUA pelo WikiLeaks - as maiores violações de segurança desse tipo na história militar dos EUA.
Mas para os defensores da liberdade de imprensa e os seus apoiadores, que incluem líderes mundiais, celebridades e alguns jornalistas proeminentes, ele é um herói por expor irregularidades e supostos crimes de guerra, e foi perseguido por embaraçar as autoridades dos EUA.
"O mundo está um pouco melhor e menos injusto hoje. Julian Assange está livre depois de 1.901 dias preso. Sua libertação e retorno para casa, ainda que tardiamente, representam uma vitória democrática e da luta pela liberdade de imprensa", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em postagem no X.
Na quarta-feira, Assange deverá ser condenado a 62 meses de pena já cumprida, em audiência em Saipan, nas Ilhas Marianas do Norte, às 9h no horário local (20h de terça-feira em Brasília).
O território dos EUA no Pacífico foi escolhido devido à oposição de Assange em viajar para o continente dos EUA e pela sua proximidade com a Austrália, disseram os promotores.
Assange, nascido na Austrália, deixou a prisão de segurança máxima de Belmarsh antes de ser libertado sob fiança pela Alta Corte de Londres e mais tarde embarcar em um voo, disse sua esposa, Stella Assange.
“Estou exultante”, disse Stella, que voou de Londres para a Austrália no domingo com os dois filhos do casal, à Reuters.
"Eu também me sinto preocupada... Até que esteja totalmente assinado, eu me preocupo, mas parece que chegamos lá."
Em 2010, o WikiLeaks divulgou centenas de milhares de documentos militares confidenciais dos EUA sobre as guerras de Washington no Afeganistão e no Iraque, junto com vários telegramas diplomáticos.
Assange foi indiciado durante o governo do ex-presidente Donald Trump por causa da divulgação em massa de documentos secretos dos EUA pelo WikiLeaks, vazados por Chelsea Manning, ex-analista de inteligência militar dos EUA, também processada com base na Lei de Espionagem.
O conjunto de mais de 700.000 documentos incluía telegramas diplomáticos e relatos de campos de batalha, como um vídeo de 2007 de um helicóptero Apache dos EUA disparando contra supostos insurgentes no Iraque, matando uma dúzia de pessoas. Esse vídeo foi divulgado em 2010.
As acusações contra Assange provocaram indignação entre seus muitos apoiadores globais que há tempos argumentam que Assange, como editor do Wikileaks, não deveria enfrentar acusações normalmente usadas contra funcionários do governo federal que roubam ou vazam informações.
Muitos defensores da liberdade de imprensa argumentaram que acusar Assange criminalmente representa uma ameaça à liberdade de expressão.
Assange foi preso pela primeira vez no Reino Unido em 2010 com um mandado de prisão europeu, após autoridades suecas dizerem que queriam interrogá-lo sobre alegações de crimes sexuais posteriormente retiradas. Ele fugiu para a embaixada do Equador, onde permaneceu por sete anos, para evitar a extradição para a Suécia.
Ele foi arrastado para fora da embaixada em 2019 e preso. Desde então, estava na prisão de segurança máxima de Belmarsh, em Londres, de onde há cerca cinco anos lutava contra a extradição para os Estados Unidos.
Enquanto estava em Belmarsh, ele se casou com a companheira Stella, com quem teve dois filhos durante o período na embaixada do Equador.
(Reportagem adicional de Michael Holden e Kate Holton em Londres)