Por Caio Saad
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Competidores brasileiros e de outros países minimizaram nesta quinta-feira as preocupações sobre a qualidade da água em locais de competição da Olimpíada do Rio de Janeiro, após novos testes revelarem alta presença de vírus e bactérias causadores de doenças, mas reconheceram a frustração com a poluição.
De acordo com reportagem publicada pela Associated Press nesta quinta, testes virais e especialistas em qualidade da água do Brasil e do exterior revelaram alta presença de vírus conhecidos por causar doenças estomacais, respiratórias e outras, incluindo diarreia aguda e vômitos.
Os testes apontaram riscos de contrair doenças durante provas na Baía de Guanabara, Lagoa Rodrigo de Freitas e na praia de Copacabana, mas atletas que vão disputar os Jogos garantiram não estar preocupados.
"Acho que a água está suja como sempre, não melhorou muita coisa, mas tenho certeza que nenhum atleta ficará doente, pois não conheço nenhum velejador brasileiro que tenha adoecido", disse à Reuters o velejador Ricardo Winicki Santos, o Bimba, tetracampeão pan-americano da classe RS:X, incluindo uma medalha de ouro nos Jogos Rio-2007 conquistada na mesma baía.
Apesar das promessas de despoluição por parte de autoridades da cidade para a candidatura aos Jogos Olímpicos, o governo já reconheceu que não conseguirá cumprir a meta de tratar 80 por cento do esgoto lançado na Baía de Guanabara, e busca medidas paliativas para o problema, como o uso de barcos de limpeza para a superfície e a colocação de barreiras nas raias olímpicas.
Embora a baía seja o local mais poluído, as concentrações dos vírus na praia de Copacabana, onde serão realizadas as provas de natação do triatlo e de maratona aquática, também se aproximaram das mesmas encontradas no esgoto. Ainda foi identificado alto nível de contaminação na Lagoa Rodrigo de Freitas, sede das provas de remo e canoagem.
"Sobre a estrutura da lagoa, posso dizer que as condições são ótimas. Acho que não há problema... Treino ali todo dia e nunca fiquei doente e não conheço ninguém que tenha ficado. As condições para remar são tranquilas e não vai ser isso que vai atrapalhar", disse Fabiana Beltrame, remadora que participou dos Jogos Olímpicos de Londres-2012 e se prepara para o Rio-2016.
"ATÉ NADEI"
As novas avaliações sobre a qualidade das águas dos locais de competição cariocas surgiram três dias antes de um evento-teste de triatlo na praia de Copacabana e a poucas semanas de uma prova de vela na cidade, mas um representante da equipe britânica de iatismo que se prepara no Rio minimizou as preocupações. "Você só precisa garantir que as avaliações médicas e as vacinas estão em dia", disse à Reuters.
Acostumada a velejar no Rio, a norte-americana Paige Railey, vencedora da medalha de ouro dos Jogos Pan-Americanos de Toronto este mês na classe Laser Radial, reiterou que a qualidade da água da baía não é um problema.
"Passamos muito tempo lá nos últimos anos e não tivemos nenhum problema com a água... Honestamente, o Rio tem feito um ótimo trabalho com a água, nós não tivemos nenhum problema. Acho que está bom, eu até nadei lá", disse.
Para o técnico da equipe norte-americana de iatismo, Mark Littlejohn, a água é boa o suficiente para as provas.
"Eles tiveram alguns problemas, mas trabalhamos lá por dois anos e nunca tivemos uma doença", disse. "Do nosso ponto de vista, está boa o suficiente para a prova".
Apesar de terem minimizado o problema, os atletas brasileiros acostumados com as águas mostraram insatisfação com o não cumprimento das eternas promessas sobre a limpeza das águas a tempo para os Jogos.
"O problema da Baía de Guanabara se arrasta há 30 anos, desde que eu era criança", disse à Reuters o ex-velejador Marcelo Ferreira, medalhista de ouro na classe Star nas Olimpíadas de Atlanta-1996 e Atenas-2004 e bronze em Sydney-2000.
"Está tudo ruim, acho que a Baía de Guanabara não passa de ser o espelho do Brasil. Está tudo ruim", afirmou.
(Reportagem adicional de Pedro Fonseca e Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro; Andrew Downie, em São Paulo; e Steve Keating, em Toronto)