Por Patricia Zengerle e Sarah N. Lynch
WASHINGTON (Reuters) - Depois de perder a eleição de 2020, Donald Trump ignorou aliados próximos que lhe disseram que suas alegações de fraude eleitoral generalizada eram falsas, e, quando apoiadores que acreditavam em suas falsas acusações invadiram o Capitólio dos Estados Unidos, ele se sentou e assistiu.
Essa foi a narrativa do comitê da Câmara dos Deputados dos EUA que investigou o ataque de 6 de janeiro de 2021, apresentada em oito audiências ao longo de seis semanas, que terminou com uma análise das ações do ex-presidente durante o ataque de 187 minutos ao Congresso por milhares de seus apoiadores.
"O presidente Trump sentou-se à sua mesa de jantar e assistiu ao ataque na televisão, enquanto sua equipe mais graduada, conselheiros mais próximos e familiares imploravam que ele fizesse o que se espera de qualquer presidente americano", disse a deputada Elaine Luria. "O presidente Trump se recusou a agir por causa de seu desejo egoísta de permanecer no poder."
Cerca de 18 meses após o ataque mortal, as audiências repetiram o vídeo de manifestantes invadindo o Capitólio, gritando para "enfocar Mike Pence" enquanto caçavam o vice-presidente que Trump havia convocado para reverter sua derrota eleitoral.
Eles apresentaram horas de depoimentos, alguns ao vivo e alguns gravados, de aliados próximos de Trump, incluindo o ex-secretário de Justiça Bill Barr, que chamou as alegações de fraude de Trump de "besteira", e ex-autoridades da Casa Branca, incluindo um que lembrou um presidente enfurecido jogando pratos, deixando ketchup deslizando por uma parede.
As audiências pretendiam expor um caso de que o republicano Trump violou a lei ao tentar, pela primeira vez na história dos EUA, impedir a transferência pacífica de poder de um presidente para outro.
Ainda não está claro se o Departamento de Justiça apresentará acusações contra Trump, mas as audiências parecem ter prejudicado um pouco sua posição com os eleitores republicanos. Uma pesquisa Reuters/Ipsos concluída na quinta-feira mostrou que 32% dos republicanos dizem que Trump não deveria concorrer à Presidência em 2024 --uma possibilidade com a qual ele continua flertando publicamente-- acima dos 26% que disseram isso no início das audiências.
O secretário de Justiça, Merrick Garland, se recusou nesta semana a dizer se o Departamento de Justiça acusaria Trump. Mas ele não descartou.
"Nenhuma pessoa está acima da lei neste país. Não posso dizer com mais clareza do que isso", disse Garland a repórteres na quarta-feira.
Trump e seus aliados --incluindo alguns republicanos no Congresso-- negam que ele tenha feito algo errado e classificam o comitê de sete democratas e dois republicanos como politicamente motivados.
No ano passado, os republicanos do Congresso bloquearam uma proposta dos democratas para uma comissão bipartidária sobre 6 de janeiro, semelhante à convocada após os ataques de 11 de Setembro, deixando o poder de escolher membros nas mãos da presidente da Câmara, Nancy Pelosi. Os deputados republicanos Liz Cheney e Adam Kinzinger se juntaram ao painel, que apresentou um processo roteirizado sem o combate verbal comum em audiências no Congresso.