Por Stephanie Nebehay
GENEBRA (Reuters) - As forças de segurança da Venezuela, apoiadas por milícias pró-governo, reprimiram protestos pacíficos com uso de força excessiva, assassinatos e tortura, disse a chefe de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachelet, nesta quarta-feira.
A Venezuela mergulhou em uma crise política em janeiro, quando Juan Guaidó, líder da Assembleia Nacional controlada pela oposição, invocou a Constituição para declarar-se presidente interino do país, argumentando que a reeleição do presidente Nicolás Maduro em 2018 foi ilegítima.
Sem entrar em detalhes, Bachelet disse ao Conselho de Direitos Humanos da ONU que tem informações de que a Força de Ações Especiais da Polícia Nacional (Faes) executou 37 pessoas em janeiro em Caracas durante buscas residenciais ilegais em áreas pobres que apoiam a oposição.
"Meu escritório documentou numerosas violações de direitos humanos e abusos de forças de segurança e grupos armados pró-governo, incluindo o uso de força excessiva, assassinatos, detenções arbitrárias, tortura e maus tratos na detenção, e ameaças e intimidação", afirmou.
Maduro, líder socialista que diz ser vítima de uma tentativa de golpe liderada pelos Estados Unidos, mantém o apoio das Forças Armadas e o controle de instituições estatais.
Na terça-feira, durante visita do presidente Jair Bolsonaro a Washington, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que sua gestão guarda na manga o que chamou de "as mais duras das sanções" para tentar cortar as fontes de renda de Maduro.
Em janeiro, Trump impôs sanções à estatal petrolífera PDVSA, a medida econômica mais severa contra Maduro e a Venezuela até o momento. Os EUA estão entre os países que reconheceram Guaidó como chefe de Estado legítimo.
Mas Bachelet, que foi presidente do Chile, disse que as sanções norte-americanas mais recentes sobre transferências financeiras ligadas à venda de petróleo venezuelano nos EUA "podem contribuir para agravar a crise econômica".
O embaixador venezuelano Jorge Valero disse que a verdadeira situação do país foi "distorcida pela campanha midiática internacional infundada".
Protestos pacíficos foram permitidos, mas não atos de vandalismo e criminalidade que estavam sendo "promovidos por uma porção violenta da oposição, atiçada por financiamento estrangeiro", disse.
Bachelet disse que as autoridades venezuelanas não souberam reconhecer a extensão e a gravidade de uma crise de falta de remédios e alimentos que levou mais de 3 milhões de pessoas a emigrarem desde 2015.