PEQUIM (Reuters) - Cabe ao Dalai Lama decidir se vai renascer, afirmou o terceiro líder na hierarquia do budismo tibetano, depois de as autoridades chinesas repetidamente dizerem que o Dalai Lama, que vive exilado na Índia, não tem o direito de abandonar a reencarnação.
Ogyen Trinley Dorje, que detém o título de Karmapa Lama e vive no exílio na Índia, disse à rádio Free Asia, em uma entrevista em Washington, que tem "crença total" na capacidade do Dalai Lama de decidir o seu destino depois de sua morte.
"Nas tradições tibetanas, não falamos muito sobre a reencarnação de um mestre vivo", disse ele, na noite de quarta-feira.
"No entanto, agora muitas questões estão sendo geradas. Em minha opinião, é apenas o Dalai Lama quem deve decidir sobre sua futura reencarnação. Por isso, estou confiante e tenho plena confiança em sua decisão. Há muitos declarações presumidas e esforços de adivinhação, mas eu não estou preocupado", disse.
O Karmapa tem ligação próxima com o Dalai Lama e, depois dele, é o mais eminente lama (líder religioso do budismo tibetano) a ter fugido do domínio chinês no Tibet quando as forças comunistas "pacificamente libertaram" a região, em 1950.
Apesar de sua fuga através dosHimalaia em 2000, o Karmapa continua sendo reconhecido por Pequim como a 17ª reencarnação de sua linhagem espiritual.
O budismo tibetano considera que a alma de um lama de alto nível será reencarnada no corpo de uma criança após a sua morte. A China diz que a tradição tem de continuar e que deve aprovar o próximo Dalai Lama.
No entanto, o Dalai Lama –laureado com o Nobel da Paz e que fugiu de sua terra natal em 1959 depois de uma revolta fracassada contra o domínio chinês– disse que acha que o título pode acabar quando ele morrer.
Questionado sobre os comentários do Karmapa, o porta-voz da chancelaria chinesa, Hong Lei, afirmou que a tradição da reencarnação remonta a séculos.
"A reencarnação do Dalai Lama deve respeitar os rituais religiosos relevantes, o costume histórico e as leis e as regras do Estado", afirmou Hong em seu contato diário com a imprensa.
O governador do Tibet, nomeado pela China, acusou no mês passado o Dalai Lama de blasfêmia por ter duvidado da reencarnação.
Tibetanos temem que a China vá usar a questão da sucessão religiosa do Dalai Lama para dividir o budismo tibetano, com um novo Dalai Lama nomeado por exilados e outro pelo governo chinês, após sua morte.
Em 1995, depois que o Dalai Lama nomeou um menino no Tibet como a reencarnação do Panchen Lama anterior, o segundo maior valor no budismo tibetano, a China colocou o menino em prisão domiciliar e instalou um outro em seu lugar. A maioria dos tibetanos rejeita o Panchen Lama nomeado pela China, considerando isso uma farsa.
(Reportagem de Megha Rajagopalan e Ben Blanchard)