Por Michael Holden
LONDRES (Reuters) - O príncipe britânico Charles escreveu a ministros de governo sobre questões que vão dos recursos para tropas britânicas no Iraque ao destino do peixe merluza-negra da Patagônia, de acordo com cartas particulares publicadas nesta quarta-feira, contra a vontade do governo.
As 27 cartas do e para o herdeiro do trono, de 66 anos, foram divulgadas depois que o governo perdeu uma batalha legal de uma década para impedir sua publicação com a justificativa de que podem levar ao questionamento da neutralidade política do futuro rei.
Segundo a constituição não escrita da Grã-Bretanha, a família real deve se abster da política, e a rainha Elizabeth vem mantendo suas opiniões para si mesma ao longo de seus 63 anos de reinado. Mas Charles se manifestou muitas vezes sobre temas que lhe são caros, como agricultura, arquitetura e preservação ambiental.
Em uma carta ao então primeiro-ministro Tony Blair em 2004, ele questionou os atrasos na aquisição de helicópteros militares. "Temo que este seja só mais um exemplo de como se está exigindo que nossas Forças Armadas realizem um trabalho extremamente desafiador (particularmente no Iraque) sem os recursos necessários", escreveu.
O jornal britânico The Guardian pediu acesso às correspondências pela primeira vez em 2005, mas governos sucessivos recusaram sua revelação, e o ex-procurador-geral do país alertou que as cartas poderiam prejudicar seu papel como futuro monarca. Mas, em março, a Suprema Corte concordou que a censura era ilegal e permitiu a publicação das cartas.
O gabinete de Charles declarou que as cartas demonstram que o príncipe, o mais longevo herdeiro do trono da Grã-Bretanha, estava expressando opiniões sobre assuntos de interesse público que já tinha abordado abertamente antes.