Por Steve Holland e Andrew Osborn
WASHINGTON/MOSCOU (Reuters) - Os Estados Unidos acusaram nesta terça-feira a Rússia de tentar proteger o líder sírio de culpa por um ataque com gás na semana passada, num momento em que o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, levou uma mensagem do Ocidente a Moscou condenando seu apoio ao presidente sírio, Bashar al-Assad.
Autoridades seniores da Casa Branca, falando a repórteres em condição de anonimato, disseram que o governo de Assad realizou o ataque de 4 de abril com gás nervoso sarin contra civis na província síria de Idlib, matando 87 pessoas, incluindo muitas crianças, para colocar pressão sobre rebeldes que estavam realizando avanços na área.
A Rússia defendeu Assad, seu aliado, contra acusações norte-americanas de que forças sírias teriam realizado o ataque, dizendo que não há evidências. A Rússia culpou rebeldes sírios.
“A Rússia está em uma ilha no que diz respeito ao apoio à Síria ou sua falta de, francamente, reconhecimento pelo que aconteceu. Os fatos estão a nosso favor”, disse a repórteres o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer.
Mas durante a mesma entrevista coletiva Spicer foi alvo de críticas após buscar destacar a desolação do ataque a gás ao dizer, “Você tem alguém tão desprezível como Hitler, que não chegou a baixar o nível para uso de armas químicas”. Os nazistas assassinaram seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Muitos foram mortos em câmaras de gás em campos de concentração na Europa.
Spicer posteriormente enviou por e-mail um comunicado a repórteres que pediam por maiores explicações.
“De nenhuma maneira estava tentando minimizar a natureza horrível do Holocausto. Eu estava tentando desenhar uma distinção da tática de usar aeronaves para lançar armas químicas contra centros populacionais. Qualquer ataque contra pessoas inocentes é repreensível e imperdoável”.
As autoridades da Casa Branca disseram que a Rússia tem frequentemente produzido múltiplas considerações conflituosas sobre a agressão do governo sírio, incluindo o incidente na cidade de Khan Sheikhoun, para criar confusão e dúvidas dentro da comunidade internacional.
“As acusações russas se encaixam em um padrão de desviar a culpa do regime (sírio) e tentar prejudicar a credibilidade de seus oponentes”, disse uma das autoridades da Casa Branca.
Os EUA lançaram 59 mísseis de cruzeiro contra uma base aérea síria na quinta-feira em retaliação ao ataque.
O ataque levou o governo do presidente Donald Trump, que assumiu em janeiro pedindo laços mais amistosos com a Rússia, para confronto com Moscou.
A inteligência norte-americana indica que o agente químico foi distribuído pela aeronave síria Su-22 que decolou da base aérea de Shayrat, segundo relatório da Casa Branca entregue a repórteres.
Em um documento de quatro páginas, a Casa Branca buscou refutar muitas das reivindicações de Moscou sobre as circunstâncias do ataque.
O documento dizia que aviões sírios estavam nas proximidades de Khan Sheikhoun cerca de 20 minutos antes do ataque ter início e desocuparam a área pouco depois.
“Além disso, nossa informação indica que funcionários historicamente associados ao programa de armas químicas da Síria estavam na base aérea de Shayrat no final de março realizando preparações para um ataque futuro no norte da Síria, e eles estavam presentes na base aérea no dia do ataque”, segundo o relatório.
O relatório foi parte de esforços do governo norte-americano para aumentar pressão sobre a Rússia para que o país deixe seu apoio a Assad, que tem lutado em uma guerra civil de seis anos contra em maioria rebeldes muçulmanos sunitas.
Tillerson levou uma mensagem de potências mundiais para Moscou nesta terça-feira denunciando o apoio russo ao líder sírio, uma vez que o governo Trump assumiu o posto tradicional norte-americano de líder de um Ocidente unificado.
Tillerson anteriormente se encontrou na Itália com ministros das Relações Exteriores do G7, grupo das sete economias mais avançadas, e aliados do Oriente Médio. Eles endossaram um pedido conjunto para que a Rússia abandone Assad.