Por Kate Kelland
LONDRES (Reuters) - O primeiro caso de um homem soropositivo que entrou em remissão de longo prazo depois de ser tratado durante menos de um ano com um coquetel intensificado de vários remédios contra Aids aumentou nesta terça-feira a esperança de uma cura futura da doença.
O brasileiro de 34 anos, que foi diagnosticado com HIV em 2012, foi tratado com uma base de terapia antirretroviral que foi reforçada com outros antirretrovirais e ainda um medicamento chamado nicotinamida, uma forma de vitamina B3.
O tratamento intensificado foi interrompido depois de 48 semanas, disseram médicos nesta terça-feira, e 57 semanas depois o DNA de HIV em suas células e seu exame de anticorpos de HIV continuavam negativos.
"Este caso é extremamente interessante, e realmente espero que possa impulsionar pesquisas adicionais para uma cura do HIV", disse Andrea Savarino, médico do Instituto de Saúde da Itália que coliderou o teste, em uma entrevista à instituição de caridade britânica NAM Aidsmap.
Ele alertou, porém, que quatro outros pacientes soropositivos tratados com o mesmo coquetel não viram efeitos positivos contra o vírus causador da Aids.
"Este resultado muito provavelmente não pode ser reproduzido. Este é um primeiro experimento (preliminar), e eu não faria previsões para além disso."
Enquanto cientistas correm para desenvolver vacinas e tratamentos contra a Covid-19, continua a luta para encontrar uma cura para o HIV, que já infectou mais de 75 milhões de pessoas e matou quase 33 milhões desde que a epidemia de Aids começou nos anos 1980.
Pacientes que têm acesso a remédios contra Aids conseguem controlar o vírus e impedir o avanço da doença, e existem várias maneiras de impedir sua disseminação, mas hoje 38 milhões de pessoas convivem com o HIV.
As esperanças de uma cura da Aids cresceram nos últimos anos graças a dois casos de remissão em homens que são descritos por médicos especializados em HIV como "funcionalmente curados" depois de serem tratados com transplantes de medula altamente arriscados e complexos.
Comentando o caso mais recente, que foi apresentado em uma conferência sobre a Aids em San Francisco, nos Estados Unidos, Sharon Lewin, uma especialista em HIV do Instituto Doherty da Austrália, disse que ele é "muito interessante", mas que provocou muitas dúvidas.
"Como este homem fez parte de um teste clínico maior, será importante entender totalmente o que aconteceu com os outros participantes", disse ela em um comentário enviado por email.