Por Tom Finn
DOHA (Reuters) - Um acordo de 12 bilhões de dólares para comprar jatos de combate norte-americanos F-15 indica que o Catar possui apoio profundamente enraizado de Washington, disse uma autoridade do Catar nesta quinta-feira, apesar de acusações repetidas do presidente Donald Trump de que Doha apoia o terrorismo.
O Catar está enfrentando um severo boicote econômico e diplomático pela Arábia Saudita e seus aliados regionais que cortaram laços na semana passada, na pior rixa entre Estados do Golfo Pérsico em anos. Eles acusam o Catar de financiar o terrorismo, fomentar distúrbios regionais e se aproximar do inimigo Irã. O Catar nega todas as acusações.
O acordo dos jatos de combate aconteceu em meio a um aumento de esforços diplomáticas para tentar solucionar a crise.
Trump tem repetidamente reverberado acusações contra o Catar, mesmo que seus departamentos de Defesa e de Estado tenham tentado se manter neutros na disputa entre aliados-chaves. O Catar abriga uma grande base militar norte-americana que é sede da Força Aérea dos EUA no Oriente Médio.
Na quarta-feira, o secretário de Defesa dos EUA, Jim Mattis, assinou o previamente aprovado acordo de aviões Boeing com o ministro de Estado para Questões de Defesa do Catar, Khalid al-Attiyah. O embaixador do Catar nos EUA, Meshal Hamad al-Thani, publicou no Twitter uma fotografia da cerimônia de assinatura.
“Isto é claro que é uma prova de que as instituições dos EUA estão conosco, mas nunca duvidamos disto”, disse um autoridade do Catar em Doha. “Nossos militares são como irmãos. O apoio dos EUA ao Catar é profundamente enraizado e dificilmente influenciado por mudanças políticas.”
Em Washington, uma porta-voz do Departamento de Estado disse que os EUA continuavam trabalhando com a Catar e outros governos na região e que o acordo dos caças estava sendo forjado há anos.
“Vemos isto como uma exibição tangível de apoio à nossa relação de defesa e compromisso deles com os Estados Unidos”, disse a porta-voz Heather Nauert a repórteres.
Uma fonte do Ministério da Defesa do Catar disse que o acordo era de 36 caças. Em novembro, sob governo do ex-presidente Barack Obama, os EUA aprovaram uma possível venda de até 72 aeronaves F-15QA para o Catar por 21,1 bilhões de dólares. A Boeing, contratante principal na venda, se negou a comentar.
O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, em viagem pelo Golfo tentando ajudar a mediar um fim à crise, defendeu o acordo.
“Assim como os outros países, como Arábia Saudita, os Estados Árabes Unidos, Egito... é natural que o Catar compre aeronaves ou partes necessárias para sua própria defesa”, disse Cavusoglu no Kuweit após conversas com o chanceler do Kuweit, de acordo com a agência de notícias estatal turca Anadolu.
A Turquia é amistosa com o Catar e enviou suprimentos de comida desde que as sanções foram impostas. O Kuweit liderou esforços para mediar a disputa, que afetou importações de alimentos e levantou dúvidas sobre os planos do Estado do Golfo Pérsico de sediar a Copa do Mundo de 2022.
Um diplomata europeu no Golfo disse que o momento do acordo aparentou ser coincidência.
“Provavelmente os EUA poderiam ter adiado o acordo se quisessem, embora eu não ache que há grande ligação entre vendas e política externa.”
(Reportagem adicional de Rania El Gamal, em Dubia, e Tuvan Gumrukcu, em Ancara)