Por Bernard Orr e Roger Tung
PEQUIM/TAIPÉ (Reuters) - A China disse nesta quarta-feira que sua recente série de exercícios militares perto de Taiwan teve como objetivo combater a "arrogância" das forças separatistas, enquanto o favorito para ser o próximo presidente de Taiwan disse que a China estava tentando "anexar" a ilha.
Taiwan, que a China reivindica como parte de seu próprio território, disse este mês que havia observado dezenas de caças, drones, bombardeiros e outras aeronaves, bem como navios de guerra e o porta-aviões chinês Shandong, operando nas proximidades.
O aumento da frequência das atividades militares da China elevou o risco de os eventos "saírem do controle" e provocarem um confronto acidental, alertou o ministro da defesa da ilha.
Questionado sobre o aumento dos exercícios e as preocupações de Taiwan com o aumento do risco, Zhu Fenglian, porta-voz do Escritório de Assuntos de Taiwan da China, reconheceu os exercícios do Exército de Libertação Popular chinês.
"O objetivo é combater resolutamente a arrogância das forças separatistas da independência de Taiwan e suas ações para buscar a independência", disse Zhu em uma coletiva de imprensa regular em Pequim.
"A provocação da independência de Taiwan continua o dia todo, e as ações do Exército de Libertação Popular para defender a soberania nacional e a integridade territorial estão sempre em andamento", acrescentou.
Ela pediu que as pessoas em Taiwan façam a distinção entre "certo e errado", se oponham resolutamente à independência da ilha e trabalhem com a China para manter a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan.
A China tem uma aversão particularmente forte a William Lai, o favorito para ser eleito presidente nas eleições de janeiro em Taiwan, devido a comentários anteriores em apoio à independência.
Entretanto, ele diz que não pretende mudar o status quo e ofereceu conversações com Pequim.
A situação no Estreito de Taiwan "não melhorou com o passar do tempo", disse Lai, que agora é o vice-presidente da ilha.
"As tentativas da China de anexar Taiwan não mudaram", disse ele em um evento em Taipé, nesta quarta-feira, para marcar o 37º aniversário da fundação do Partido Democrático Progressista, ou DPP.
As Forças Armadas da China não mencionaram nem comentaram explicitamente os exercícios, em um momento em que o ministro da Defesa chinês, Li Shangfu, desapareceu da vista do público. Fontes disseram à Reuters que ele está sendo investigado por corrupção.
O governo democraticamente eleito de Taiwan afirma que somente o povo da ilha pode decidir seu futuro e ofereceu repetidamente conversações com a China, as quais foram rejeitadas por Pequim.
Na quarta-feira, o Ministério da Defesa de Taiwan relatou outros movimentos militares chineses, dizendo que havia detectado e respondido a 16 aeronaves chinesas que entraram na zona de identificação de defesa aérea da ilha nas últimas 24 horas.
Dessas, 12 cruzaram a linha mediana do estreito de Taiwan, que serviu como uma barreira não oficial entre os dois lados até que a China começou a cruzá-la regularmente em agosto do ano passado.
Na quinta-feira, Taiwan deve lançar o primeiro de oito submarinos fabricados internamente, reforçando suas defesas contra a China.
Em Pequim, quando perguntada sobre os submarinos, Zhu disse que os esforços do DPP de Taiwan para "buscar a independência pela força" só exacerbariam as tensões e "empurrariam o povo taiwanês para uma situação perigosa".
Em uma revelação incomum na semana passada, o Ministério da Defesa de Taiwan disse que estava monitorando os exercícios da China na província de Fujian, no sul, em frente a Taiwan. Normalmente, Taiwan fornece detalhes apenas dos exercícios nos céus e nas águas ao seu redor.
Uma autoridade graduada de Taiwan familiarizada com o planejamento de segurança na região disse à Reuters que as informações foram divulgadas para mostrar a capacidade de vigilância e inteligência da ilha.
"Podemos ver os detalhes e estamos preparados", disse a fonte, falando sob condição de anonimato, pois não estava autorizada a falar com a imprensa.
Os militares chineses também não comentaram sobre os exercícios de Fujian.
(Reportagem adicional da Redação em Pequim e de Yimou Lee, em Taipé)