Por Andrew Osborn
MOSCOU (Reuters) - Um cientista dos tempos da Guerra Fria admitiu nesta terça-feira que ajudou a criar o agente nervoso que o Reino Unido diz ter sido usado para envenenar um ex-espião e sua filha, contradizendo as alegações de Moscou de que nem a Rússia nem a União Soviética jamais tiveram tal programa.
Mas o professor Leonid Rink disse à agência de notícias RIA que o ataque não parece ser obra de Moscou, porque Sergei e Yulia Skripal não morreram imediatamente.
Os Skripal continuam vivos, mas em estado grave, mais de três semanas depois de terem sido encontrados inconscientes na cidade inglesa de Salisbury. Um policial que os acudiu também está hospitalizado em estado grave.
Rink disse ter trabalhado em uma instalação de armas químicas da União Soviética, onde o agente nervoso de uso militar Novichok foi desenvolvido. Indagado se foi um dos criadores do Novichok, ele respondeu à RIA: "Sim. Foi a base de minha dissertação de doutorado."
Moscou negou qualquer envolvimento no caso Skripal e também que a União Soviética ou o Estado russo que a sucedeu tenha desenvolvido o Novichok.
Ecoando uma teoria veiculada pela mídia estatal russa, Rink disse que os britânicos podem ter estado por trás do ataque.
"É difícil acreditar que os russos estavam envolvidos, dado que todos aqueles que foram atingidos no incidente ainda estão vivos", disse. "Uma incompetência tão ultrajante dos supostos espiões (russos) teria sido simplesmente risível e inaceitável."
Inspetores da Organização para a Proibição das Armas Químicas (Opaq) começaram a examinar o veneno usado no ataque, que Londres atribui a Moscou.
Rink disse à RIA que trabalhou em uma instalação soviética de pesquisa de armas químicas na cidade de Shikhany, na região russa de Saratov, durante 27 anos, até o início dos anos 1990. O Novichok não é uma única substância, explicou, mas um sistema de uso de armas químicas que foi batizado pela União Soviética de 'Novichok-5'.
"Um grande grupo de especialistas de Shikhany e de Moscou trabalhou no Novichok –nas tecnologias, nas toxicologias e na bioquímica", afirmou. "No final obtivemos bons resultados."
Rink confessou ter fornecido, em segredo e por dinheiro, um veneno de uso militar que foi usado para matar um magnata banqueiro russo e seu secretário em 1995.