Por Will Dunham e Scott Malone
WASHINGTON/CAMBRIDGE (Reuters) - Cientistas anunciaram nesta quinta-feira que detectaram pela primeira vez as ondas gravitacionais, ondulações no espaço e no tempo, antecipadas hipoteticamente pelo físico Albert Einstein há um século, em uma descoberta marcante que abre uma nova janela para o estudo do cosmos.
Os pesquisadores disseram ter detectado ondas gravitacionais oriundas de uma colisão entre dois buracos negros --objetos extraordinariamente densos cuja existência também foi prevista por Einstein-- de 30 vezes a massa do Sol, ocorrida a 1,3 bilhão de anos-luz da Terra.
O marco científico, anunciado em uma coletiva de imprensa em Washington, foi conseguido por meio de um par de detectores de laser gigantes localizados nos Estados norte-americanos de Louisiana e Washington, coroando um esforço antigo para confirmar a existências destas ondas.
O anúncio foi feito em Washington por cientistas do Instituto de Tecnologia da Califórnia, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (o prestigiado MIT) e da Colaboração Científica LIGO.
Como a luz, a gravidade se move em ondas –mas, ao contrário da radiação, é o próprio espaço que ondula. Detectar as ondas gravitacionais exigiu que se medissem fachos de laser de 4 quilômetros com uma precisão 10 mil vezes menor do que um próton.
Os dois instrumentos de laser, que trabalham em uníssono, são conhecidos como Observatório de Onda Gravitacional com Interferômetro de Laser (LIGO, na sigla em inglês). Eles são capazes de detectar vibrações incrivelmente pequenas das ondas gravitacionais circulantes.
Depois de captarem o sinal da onda gravitacional, os cientistas disseram que o converteram em ondas de áudio e conseguiram escutar os sons dos dois buracos negros se fundindo.
"Estamos realmente escutando-os dando uma cacetada no escuro", contou o físico Matthew Evans, do MIT. "Estamos captando um sinal que chega à Terra, e podemos colocá-lo em um alto falante, podemos ouvir estes buracos negros fazendo 'tum'. Há uma conexão muito visceral com esta observação", disse.
Os pesquisadores afirmaram que detectaram as ondas gravitacionais pela primeira vez em 14 de setembro passado.
"Estamos realmente testemunhando o surgimento de uma nova ferramenta para a astronomia", opinou a astrofísica Nergis Mavalvala, também do MIT, em uma entrevista. "Acionamos um novo sentido. Éramos capazes de ver, e agora poderemos ouvir também."
O trabalho do LIGO é financiado pela Fundação Nacional de Ciência, uma agência independente do governo dos EUA.
Em 1916, Einstein propôs a existência de ondas gravitacionais como um desdobramento de sua revolucionária Teoria Geral da Relatividade, que mostrava a gravidade como uma distorção do espaço e do tempo desencadeada pela presença da matéria. Mas até agora os cientistas só haviam encontrado indícios indiretos de sua existência.