Por Jennifer Rigby
(Reuters) - Pesquisadores nos Estados Unidos demonstraram pela primeira vez que conseguem, de maneira segura e efetiva, infectar voluntários humanos com o vírus Zika, um passo à frente para aprender mais sobre a doença e desenvolver vacinas e tratamentos.
O estudo -- conhecido como “modelo de infecção humana controlada” -- era controverso para o Zika por causa dos riscos aos participantes e a falta de tratamentos.
Mas reguladores norte-americanos e a Organização Mundial de Saúde decidiram que o novo modelo, desenvolvido por uma equipe da Escola Bloomberg de Saúde Pública da John Hopkins, era seguro e cientificamente importante.
A Zika é uma infecção viral disseminada por mosquitos, que é geralmente leve e assintomática.
Mas um grande surto nas Américas em 2015 e 2016 mostrou que ela pode ser perigosa para mulheres grávidas e fetos, causando devastadores defeitos de nascimento, como microcefalia, uma desordem em que a criança nasce com cabeça e cérebro anormalmente pequenos.
Não há vacinas ou tratamentos, e o surto nas Américas terminou antes que novos fossem totalmente testados. Infecções diminuíram mundialmente desde então, com cerca de 40.000 relatados ano passado naquela região.
Mas a OMS alertou que o acompanhamento pode ser irregular, e os padrões de transmissão da Zika não são bem compreendidos. As mudanças climáticas também devem reforçar sua disseminação, que já está estabelecida em 91 países.
Anna Durbin, professora da John Hopkins que liderou o estudo, disse que desenvolver contramedidas era essencial porque as infecções podem reaparecer.
Também é significativo, acrescentou, o fardo na saúde mental das mulheres grávidas em regiões endêmicas, que se preocupam com o vírus e com seus bebês, mas têm poucas opções de proteção.
Durbin e seus colegas usaram duas cepas de Zika para infectar 20 voluntárias mulheres que não estavam grávidas ou amamentando. Todas desenvolveram infecções confirmadas pelo laboratório, com sintomas leves. Outras oito receberam o placebo.
Para minimizar os riscos, as pacientes foram internadas e monitoradas até estarem livres do vírus. Elas concordaram em usar métodos anticonceptivos por dois meses.
O próximo passo é avaliar as cepas em voluntários homens, em parte para avaliar quanto tempo o vírus, que pode ser sexualmente transmitido, continua infeccioso no sêmen.
(Reportagem de Jennifer Rigby)