Por Sophie Hares
TEPIC, México (Thomson Reuters Foundation) - Um grupo de cientistas está um passo mais perto de desenvolver uma vacina para a potencialmente mortífera doença de Chagas, que é transmitida pelo inseto conhecido como barbeiro e já infectou milhões de pessoas na América Latina.
Emilio Malchiodi, professor de imunologia da Universidade de Buenos Aires, explicou que em testes com ratos uma molécula desenvolvida para conter três antígenos diminuiu o número de parasitas Trypanosoma cruzi, que causam Chagas, e também a extensão do danos causados aos tecidos.
Este desenvolvimento pode ajudar a reduzir os custos de uma vacina em potencial, disse. "Senão você tem que produzir três antígenos diferentes, e agora só tem que produzir um", disse Malchiodi, que comandou a pesquisa.
A doença de Chagas, que mata cerca de 12 mil pessoas por ano, é causada por um parasita transmitido pelo barbeiro, um inseto da subfamília dos triatomíneos, que é endêmico na América Latina e se esconde nas frestas de casas de barro, onde muitos pobres das áreas rurais vivem, e à noite sai para sugar o sangue dos moradores.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que até 7 milhões de pessoas, a maioria na América Latina, foram infectadas pelo parasita. Chagas está na lista da organização de 17 doenças tropicais negligenciadas que necessitam de mais investimento e pesquisa e recebem pouca atenção de empresas farmacêuticas.
Malchiodi, cujo trabalho de equipe foi publicado no período científico "npj Vaccines" da revista Nature nesta semana, disse que desenvolver uma vacina é imperativo, já que a migração crescente significa que estimadas 300 mil a 500 mil pessoas nos Estados Unidos e até 70 mil na Europa foram contaminadas pelo parasita.
A instituição de caridade Médicos Sem Fronteiras (MSF) diz que quase uma de cada três pessoas com Chagas desenvolve problemas potencialmente fatais, como doença cardiovascular, parada cardíaca e complicações intestinais, mas que pode demorar mais de 30 anos até que problemas de saúde crônicos se manifestem.
É necessário usar análises de laboratório de amostras de sangue para diagnosticar a infecção, e embora o tratamento possa ser quase 100 por cento eficaz para recém-nascidos e casos agudos, torna-se mais difícil tratar os doentes à medida que o tempo transcorrido entre a infecção e o diagnóstico aumenta, de acordo com o MSF.
Mais de 100 anos depois de o médico brasileiro Carlos Chagas ter descoberto a moléstia, pouco progresso foi feito no desenvolvimento de novos tratamentos, com exceção dos remédios benzonidazol e nifurtimox usados atualmente.
Malchiodi disse que o trabalho de sua equipe focou no desenvolvimento de uma vacina profilática, mas o próximo passo será desenvolver uma vacina terapêutica para tratar o estágio crônico da doença.