BOGOTÁ (Reuters) - A Colômbia prendeu na segunda-feira um futuro congressista do partido marxista Farc devido a acusações de tráfico de drogas, informou o governo, causando revolta no antigo grupo rebelde que se desmobilizou no ano passado.
Seusis Hernández, que tomaria posse em julho, conspirou para exportar 10 toneladas de cocaína no valor de 320 milhões de dólares para os Estados Unidos, disse o procurador-geral, Néstor Humberto Martínez, em um pronunciamento televisionado ao lado do presidente colombiano, Juan Manuel Santos.
Um júri do distrito sul de Nova York indiciou Hernández, conhecido pelo codinome Jesus Santrich, e três outros na semana passada, disse Martínez.
"O procurador-geral me informou que, em resultado de uma investigação rigorosa, tem provas vigorosas e conclusivas que mostram a responsabilidade de Seusis Hernández, conhecido como Jesus Santrich, por crimes de tráfico de drogas cometidos após a assinatura do acordo", afirmou Santos, referindo-se ao acordo de paz de 2016 entre a Farc e o governo.
"Os detidos traíram os valores e os princípios do acordo de paz", segundo Martínez.
Hernández ficará sob custódia até o pedido de extradição dos EUA ser formalizado, disse o procurador-geral. O Departamento de Justiça não respondeu de imediato a um pedido de comentário.
Pelos termos do pacto, a Farc tem direito a 10 cadeiras no Congresso até 2026, uma das quais o partido entregou a Hernández.
A prisão foi criticada pela Farc, que disse se tratar de uma ataque ao processo de paz. Não ficou claro se a antiga guerrilha pretende substituir Hernández e por quem.
"Este é o pior momento que o processo de paz já atravessou", disse a Farc no Twitter. "O governo deveria agir e impedir que armadilhas judiciais levem a acontecimentos assim, que causam grande desconfiança."
Crimes cometidos por membros da Farc durante a guerra devem ser julgados por um tribunal especial, mas aqueles cometidos após a desmobilização estão sujeitos aos procedimentos judiciais normais, que incluem a possibilidade de extradição.
A Farc manteve suas iniciais, mas foi rebatizada como Força Alternativa Revolucionária do Comum ao se tornar um partido político.
O grupo expressou várias vezes o temor de ser visado por assassinos e perseguido pelas autoridades agora que se desmobilizou, e diz que mais de 50 correligionários e familiares foram mortos desde que o pacto de paz foi assinado.
(Por Julia Symmes Cobb e Nelson Bocanegra)