BRASÍLIA (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff concentrará os esforços de recomposição de sua base de apoio principalmente no Senado, em uma negociação que abrange reformas administrativa e ministerial, com reorganização da máquina pública e nova divisão de poder entre os partidos aliados, e a oferta de cargos.
As articulações buscam contemplar principalmente o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e a bancada peemedebista, mas também abrangem legendas com bancadas menores, relevantes para a sustentação do governo.
"A presidente se dedica a sua base de apoio no Senado", disse uma fonte do governo com informações sobre as negociações políticas.
A tentativa da presidente de estabelecer maior aproximação com o Senado e com Renan ocorre em um momento de grave crise política e esfacelamento da base, principalmente na Câmara dos Deputados, comandada por Eduardo Cunha(PMDB-RJ).
Cunha, que rompeu com o governo no mês passado após ter seu nome citado por um delator da Lava Jato, está em confronto aberto com o Palácio do Planalto, num cenário em que avançam especulações sobre a possibilidade de que seja aberto um processo de impeachment contra a presidente.
A Câmara tem aprovado medidas que vão contra o esforço do governo de reequilibrar as contas públicas, como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 443 que eleva os gastos com o funcionalismo. A esperança do governo é tentar barrar esses medidas no Senado. A base aliada na Câmara, de acordo com um parlamentar governista, está "inadministrável".
Para garantir apoio e empenho de senadores aliados, Dilma sinaliza com nova configuração ministerial, mais enxuta, mas com ministérios mais fortes. O Ministério do Planejamento, comandado por Nelson Barbosa, está a cargo da reforma, que seguirá a linha da proposta sugerida por Renan Calheiros no início do ano. Na ocasião, Renan destacou a necessidade de o governo "cortar na própria carne" para promover o ajuste fiscal.
De acordo com a fonte do governo, a partir dessa reforma administrativa, a presidente renegociará a divisão de poder no governo, abrindo novas conversas sobre reforma ministerial com o PMDB e os demais partidos da base aliada.
A fonte disse, no entanto, que Dilma e sua equipe avaliam o melhor momento de fazer a reforma ministerial, e que a distribuição de cargos para os integrantes da base aliada pode ocorrer primeiro.
"A tendência é o Senado crescer no governo, voltar a ser o grande interlocutor do governo no Congresso. O Senado vai voltar a ser o grande protagonista", disse o parlamentar governista que participa das negociações.
De acordo com outra fonte do Executivo, dentre as propostas em análise está a de unificar os ministérios ligados a pautas sociais, como as secretarias de Direitos Humanos, de Políticas para as Mulheres e de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Outra possibilidade seria colocar sob o comando do Ministério dos Transportes as secretarias de Aviação Civil e de Portos.
Simultaneamente a essas negociações, Renan Calheiros e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, trabalham em uma pauta focada na retomada do crescimento em ação destinada a conferir ao Senado importância no esforço de melhorar o ambiente econômico.
(Reportagem de Luciana Otoni, Maria Carolina Marcello e Leonardo Goy)