Por Jeferson Ribeiro
BRASÍLIA (Reuters) - O PSB lançou na quarta-feira sua nova chapa presidencial, comandada pela ex-senadora Marina Silva, com discursos emocionados, recheados de menções a Eduardo Campos, que morreu num trágico acidente aéreo na semana passada, pregando união e afastando a pressão sobre a candidata para ela subir em palanques estaduais que a contrariem.
O lançamento da nova chapa, que já havia sido anunciada na véspera, ocorreu depois de longas reuniões ao longo do dia, algumas delas tensas, que terminaram com um aparente ambiente de união entre os socialistas e os "marineiros", que trabalham para criação do seu próprio partido, o Rede Sustentabilidade.
"Nossa palavra de ordem nesse momento é crescer, crescer em maturidade política, crescer em disposição para mudança que já está sinalizada em nosso programa, crescer na sensibilidade e na generosidade para lidarmos com nossas diferenças, crescer na unidade", discursou Marina, que se comprometeu a assumir todos os compromissos que tinham sido anunciados por Campos.
Seu novo companheiro de chapa, o líder da bancada do PSB na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS), também pediu unidade ao partido e repetiu um dos mantras da aliança que quer quebrar a polarização entre PT e PSDB no poder. Para ele, as pessoas vêem o esgotamento do atual modelo de governar dos dois partidos e é hora da mudança.
"Vêem acima de tudo a necessidade do Brasil de olhar para frente, de olhar para o futuro, parar de viver com essa dicotomia de dois partidos que há 20 anos distinguem o que é bom e ruim ao seu gosto e ao seu modo", discursou.
"Cada um puxando a brasa para o seu assado e impedindo que o Brasil dê passos mais largos na direção da justiça social e na melhoria dos serviços públicos", acrescentou.
Citando Campos de forma repetida, Albuquerque e Marina, reforçaram a necessidade de levar adiante as ideias do ex-presidente do PSB.
"Estamos envolvidos na tarefa histórica de ressintonizar a sociedade brasileira e seus políticos e para isso Eduardo nos deu a régua e o compasso", afirmou Marina.
PALANQUES
Apesar do discurso de unidade, a nova chapa do PSB terá um trabalho árduo pela frente nas próximas semanas para manter os militantes mobilizados após a morte de Campos, que era o centro dessa aliança que abriga partidos de pouca expressão, como PHS, PPL, PSL e PRP, e um grupo grande de seguidores de Marina, que já anunciaram que mesmo Marina sendo eleita presidente manterão o projeto de criar seu partido, o Rede Sustentabilidade, para onde ela também migraria.
Nesse caminho também há os palanques estaduais, muitos deles criados à revelia de Marina e que ela continuará não integrando.
A candidata afirmou que em palanques como o de São Paulo, onde o PSB apoia o PSDB, o representante do partido será Albuquerque e ela se preservará de participar e pedir votos para esses candidatos.
O presidente da legenda, Roberto Amaral, também minimizou possíveis problemas com os pequenos partidos da coligação e disse que não recebeu reclamações.
"Eu não poderia abrir consultas aos partidos aliados antes que o PSB tomasse a decisão pela nova chapa", argumentou. Ele fará uma reunião na quinta-feira com os partidos da aliança para formalizar a decisão dos socialistas e espera não ter surpresas.
PONTAPÉ INICIAL
Ainda juntando os cacos após a perda de Campos, o PSB agendou para o próximo sábado o pontapé inicial da campanha num grande ato político com caminhada e comício em Recife, base política do presidenciável morto.
O programa de governo, que servirá para impulsionar a campanha e que já estava aprovado por Marina e Eduardo, deve ser lançado no começo de setembro, segundo o coordenador do texto, Maurício Rands. O PSB queria lançá-lo antes, mas a agenda de debates e gravações de programa impediram uma data mais próxima.