Por Luc Cohen
(Reuters) - A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, a quem Joe Biden endossou para substituí-lo na chapa presidencial democrata, começou sua carreira política como promotora da Califórnia, combinando reformas na justiça criminal com uma postura dura em relação a alguns crimes.
Ao longo de mais de 12 anos como promotora distrital de San Francisco e depois como procuradora-geral da Califórnia, Kamala assumiu algumas posições bem recebidas pela ala esquerda do partido, incluindo a oposição à pena de morte e a adoção de uma linha dura durante negociações com os grandes bancos sobre abusos na execução de hipotecas de casas.
Mas ela irritou críticos progressistas com outras medidas, incluindo uma política de processar criminalmente os pais de crianças que faltavam à escola e rejeitar um pedido de teste de DNA de um homem negro no corredor da morte que diz ter sido condenado injustamente por assassinato.
Seu histórico misto provavelmente servirá de base para o candidato republicano Donald Trump pintá-la como branda em relação ao crime. Kamala Harris caracteriza sua abordagem como sendo "inteligente em relação ao crime" e falou sobre a importância de prevenir e punir o crime e, ao mesmo tempo, proteger os direitos dos réus e coibir os excessos.
"Minha visão de uma promotora progressista era a de alguém que usava o poder do cargo com senso de justiça, perspectiva e experiência, alguém que tinha clareza sobre a necessidade de responsabilizar criminosos graves e que entendia que a melhor maneira de criar comunidades seguras era prevenir o crime", escreveu Kamala em seu livro de memórias de 2019.
James Singer, porta-voz da campanha de Kamala, disse que o histórico dela contrasta com o de Trump, que foi condenado em maio por acusações criminais de encobrir dinheiro secreto pago a uma estrela pornô.
"Kamala Harris passou sua carreira enfrentando e derrotando os grandes bancos, faculdades com fins lucrativos e criminosos a serviço de nosso país", afirmou Singer.
Um porta-voz da campanha de Trump não respondeu a pedidos de comentários. Trump prometeu recorrer de sua condenação.
CONTRA A PENA DE MORTE
Em 2003, Kamala Harris, de 59 anos, tornou-se a primeira mulher a ser eleita como a principal promotora de San Francisco, depois de ter feito campanha com base em uma promessa de não buscar a pena de morte.
Sua posição foi testada quase que imediatamente, quando o policial Isaac Espinoza foi morto em 2004. Apesar da pressão de vários democratas da Califórnia, incluindo os dois senadores do Estado, para aplicar a pena de morte ao membro da gangue que matou Espinoza, Kamala manteve-se firme e garantiu uma sentença de prisão perpétua sem liberdade condicional.
A viúva do policial, Renata Espinoza, disse à CNN em 2019 que Kamala não ligou para ela antes de anunciar em uma coletiva de imprensa que não pediria a pena de morte.
"Ela tinha acabado de tirar a justiça de nós, de Isaac", afirmou Renata Espinoza.
Como promotora distrital, Kamala Harris recebeu elogios dos progressistas por implementar um programa para ajudar jovens presos por delitos não violentos a obter treinamento profissional, tratamento para abuso de substâncias e moradia. Como procuradora-geral, ela lançou um treinamento sobre preconceito para policiais estaduais.
Mas ela atraiu críticas da esquerda por um plano para desencorajar a evasão escolar processando os pais de crianças cronicamente ausentes - embora ninguém tenha ido para a cadeia enquanto ela era promotora distrital, e Kamala disse em 2010 que a evasão escolar no ensino fundamental havia caído 33% nos dois anos anteriores.
(Reportagem de Luc Cohen em Nova York; reportagem adicional de Jarrett Renshaw)