Por David Adams
MIAMI (Reuters) - O encontro histórico de Barack Obama com o presidente de Cuba, Raúl Castro, no sábado, foram o ponto alto de uma longa busca do presidente dos Estados Unidos, que incluiu reuniões com moderados cubano-americanos frustrados com os radicais de sua própria comunidade, que se recusam a negociar com Havana.
A reunião Obama-Raúl no Panamá se seguiu a um acordo inovador feito pelos dois homens em dezembro para trabalharem pela normalização das relações bilaterais, incluindo a busca do restabelecimento das relações diplomáticas, rompidas pelos EUA em 1961.
A mudança de atitudes na comunidade cubano-americana, cuja maior parte se concentra em Miami, ajudou a suavizar o caminho para a mudança de Obama na política, já que a nova geração está mais propensa a entrar em contato com a ilha comunista.
Na realidade, os exilados linha-dura ainda se opõem ao estreitamento dos laços com Havana. Embora não tenha havido protestos públicos sobre o encontro dos dois presidentes, houve muitos resmungos na rádio local e nas redes sociais.
Provável candidato presidencial republicano em 2016, e morador de Miami, Jeb Bush está mais perto politicamente dos exilados cubanos conservadores e resumiu os sentimentos negativos dos radicais em um tuíte: "Por que legitimar um ditador cruel de um regime repressivo?".
Obama tem sondado a temperatura da comunidade cubano-americana há anos.
Sua primeira lição prática ocorreu durante uma parada para fumar do lado de fora de um evento de arrecadação de fundos no Kaleidoscope Club, em Chicago, em 2004, quando ele estava disputando uma cadeira no Senado dos Estados Unidos, pelo Estado de Illinois.
O ex-administrador da Cidade de Miami Joe Arriola orientou Obama –na época, os dois homens estavam tentando parar de fumar– sobre como apelar aos eleitores cubano-americanos.
"Eu disse a ele para não ouvir a direita louca de Miami... pois a geração dos meus filhos pensava de maneira diferente", lembrou Arriola, um proeminente político cubano-americano.
Arriola convidou Obama para um evento de arrecadação de fundos para sua campanha em Miami. "Nós o trouxemos aqui várias vezes depois disso. Ele ia tomar café da manhã com a gente e nós buscávamos pessoas para apresentar a ele", afirmou Arriola.
O encontro casual em Chicago despertou o interesse de Obama pelas mudanças no enclave cubano-americana no sul da Flórida, antes solidamente republicano.
O encontro para arrecadação de fundos em Miami foi feito com discrição porque Arriola, de 67 anos e ex-republicano, ainda estava trabalhando para a cidade de Miami, e um outro participante, Manny Díaz, era o prefeito. Eles não tinham certeza de como a comunidade de exilados cubanos– conhecida por sair às ruas para se manifestar- reagiria.
O encontro para fumar também seria o início de uma amizade de família que iria levar dois dos filhos de Arriola - Ricky e Eddy – a participar do comitê financeiro de Obama nas suas duas campanhas presidenciais.
Que um pequeno grupo de cubano-americanos tenha visto um propósito em ajudar um ascendente candidato de Chicago ao Senado acabou por ser algo que ajudaria a moldar a política dos Estados Unidos.
"Eles se identificaram com Obama logo no início, viram seu potencial, trouxeram-no para Miami e o fizeram embrenhar-se", disse Carlos Saladrigas, um dos doze cubano-norte-americanos que participaram da arrecadação de fundos na cidade em 2004, na casa do incorporador Jorge Pérez.
(Reportagem de David Adams e Warren Strobel)