Por Christine Kim e Josh Smith
SEUL (Reuters) - A Coreia do Norte colocou em dúvida nesta quarta-feira a cúpula entre o líder Kim Jong Un e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçando semanas de progresso diplomático ao dizer que pode reconsiderar o encontro se Washington insistir que Pyongyang desista unilateralmente de suas armas nucleares.
A agência oficial de notícias norte-coreana KCNA informou que Pyongyang cancelou conversações de alto nível com Seul que deveriam ocorrer nesta quarta-feira, no primeiro sinal de problemas no relacionamento entre os vizinhos após meses de aproximação.
Mais tarde, o vice-ministro das Relações Exteriores norte-coreano, Kim Kye Gwan, disse, segundo a KCNA, que o destino da cúpula EUA-Coreia do Norte, bem como das relações bilaterais, "ficaria claro" se os Estados Unidos falassem de uma desnuclearização ao "estilo da Líbia" para a Coreia do Norte.
"Se os EUA estão tentando nos colocar contra uma parede para forçar nosso abandono nuclear unilateral, não estaremos interessados em tal diálogo e não podemos deixar de reconsiderar nosso procedimento para a cúpula RPDC-EUA", disse Kim Kye Gwan, referindo-se à Coreia do Norte por seu nome oficial, a República Popular Democrática da Coreia.
A cúpula entre Trump e Kim está marcada para o dia 12 de junho, em Cingapura.
O vice-ministro criticou especificamente o assessor de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, que cobrou a Coreia do Norte a desistir logo de seu arsenal nuclear por meio de um acordo semelhante ao que levou a Líbia a abdicar de suas armas de destruição em massa.
Pyongyang teve atritos com Bolton quando ele trabalhou para o governo Bush, classificando-o como "escória humana".
"Já lançamos luz sobre a qualidade de Bolton no passado, e não escondemos nosso sentimento de repugnância por ele", disse o vice-ministro Kim.
A posição norte-coreana, assim como o cancelamento das conversas com Seul em razão dos exercícios militares conjuntos dos EUA e da Coreia do Sul, marca uma mudança de tom dramática em relação aos últimos meses, quando os dois lados se envolveram em esforços de negociação.
A Coreia do Norte havia anunciado que iria fechar publicamente sua instalação de testes nucleares nesta semana. O país sempre defendeu seus programas nuclear e de mísseis como uma ferramenta de dissuasão necessária contra o que vê como uma agressão dos EUA, que mantêm 28.500 soldados em solo sul-coreano, um legado da Guerra da Coreia de 1950-53.