Por Natalia A. Ramos Miranda e Fabian Cambero
SANTIAGO (Reuters) - Para muitos na Plaza Italia, em Santiago, o marco zero para os gigantescos protestos no Chile que duravam meses, o caos parecia que nunca ia terminar. Conflitos sangrentos com as forças policiais, gás lacrimogêneo e vândalos encapuzados eram parte da agenda do dia. Então chegou o coronavírus.
A praça central da cidade de 6 milhões de habitantes, chamada "Plaza Dignidade" pelas hordas de manifestantes enfurecidos que se reuniam por lá quase todas as noites e finais de semana, está em silêncio. Na sexta-feira e na noite de sábado, os poucos manifestantes remanescentes recebiam gritos de motoristas que os mandavam ir para casa.
"Primeiro precisamos ficar vivos, depois podemos continuar a tentar mudar o mundo", disse Enrique Cruz, um vendedor de rua que disse que apoia a causa dos manifestantes, mas que reconhece que o momento pede um tempo nos protestos.
Embora o Chile ainda não tenha declarado isolamento total, autoridades já fecharam bares, casas noturnas e restaurantes na semana passada. No domingo, um toque de recolher noturno entrou em vigência.
Os casos do coronavírus no Chile ultrapassaram os 600 no vigésimo dia de epidemia, e aparentemente do dia para a noite atropelaram as conversas sobre aposentadorias e salários baixos e sobre o alto custo do transporte público, que até então dominavam a pauta dos protestos.
Poucos policiais patrulhavam a praça na noite de sexta-feira, a noite na semana que sempre via as maiores e mais violentas manifestações.
Um pequeno grupo de manifestantes se reuniu em torno do monumento do herói de guerra chileno Manuel Baquedano, no centro da praça. Alguns com capuzes, outros com máscaras cirúrgicas, entre eles estava José Miguel, 37. "Ainda estamos aqui", disse ele.
Os protestos no Chile começaram em outubro e foram disparados por aumento na tarifa do metrô. Nos meses seguintes, os protestos cresceram, derrubaram a economia e levaram a milhares de prisões e feridos.
Os manifestantes conseguiram uma grande vitória no final de 2019, quando parlamentares aceitaram a realização de um referendo sobre a elaboração de uma nova constituição para o país.
O referendo, que estava marcado para 26 de abril, acabou sendo adiado para 25 de outubro por causa da epidemia de coronavírus.
(Por Natalia Ramos e Fabian Cambero; Reportagem adicional de Dave Sherwood)