Por Thomas Escritt
BERLIM (Reuters) - As crianças em Gaza estão morrendo sentindo dores por falta de tratamento de emergência porque autoridades israelenses estão aprovando cada vez menos a retirada médica delas após o fechamento da passagem de Rafah, informaram agências da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta sexta-feira.
Enquanto antes quase 300 crianças eram retiradas por mês, esse número agora caiu para menos de uma por dia, com os médicos esperando em vão por aprovações de segurança das autoridades israelenses que controlam as saídas de Gaza, disse o porta-voz do Unicef, James Elder, em uma reunião em Genebra.
"Como resultado, as crianças em Gaza estão morrendo, e não apenas pelas bombas, balas e projéteis que as atingem", disse, descrevendo vários casos de crianças com ferimentos graves e com risco de vida que enfrentam atrasos inexplicáveis ou recusas de pedidos de retirada dos médicos.
"Mesmo quando acontecem milagres, mesmo quando as bombas explodem e as casas desabam e as vítimas se acumulam, mas a criança sobrevive, ela é impedida de sair de Gaza para receber os cuidados médicos urgentes que podem salvar sua vida."
As autoridades israelenses não informam quando pedidos de retirada médica são recusados e não são dadas explicações para suas decisões, afirmou Elder.
O Cogat, órgão militar israelense responsável por questões civis palestinas, incluindo retiradas médicas de Gaza, não respondeu em um primeiro momento a um pedido de comentário sobre a questão das retiradas em geral ou sobre os casos específicos citados pelo Unicef.
Entre os casos descritos por Elder estava o de Mazunia, uma menina de 12 anos cujo rosto foi atingido em um ataque com foguete que matou seus dois irmãos. Uma retirada médica, necessária para salvar sua vida, foi negada várias vezes, apesar de uma oferta para enviá-la sem a mãe.
"Esta é uma menina de 12 anos", disse Elder. "Agora, eu conheci Mazunia. Ela é incrivelmente corajosa, mas é claro que está sentindo uma dor imensa e sua condição está piorando."
Ilya, de quatro anos, está no hospital há 43 dias, coberta por queimaduras de quarto grau, ao lado da mãe, a quem foi negada a retirada e que morreu há dois dias, depois que suas próprias queimaduras foram infectadas por fungos.
Desde a morte de sua mãe, Ilya foi finalmente aprovada para ser retirada, mas não foi dada uma data para isso acontecer. Os médicos disseram que talvez tenham que amputar sua mão e sua perna se ela não for retirada logo.
No ritmo atual, seriam necessários sete anos para eliminar o acúmulo de crianças que precisam de tratamento, acrescentou Elder. "Presas nas garras de uma burocracia indiferente, a dor das crianças é brutalmente agravada."