Por Miguel Lo Bianco
TARTAGAL, Argentina (Reuters) - Na Argentina, outrora um dos países mais ricos do mundo e há muito tempo um grande exportador de carne bovina, crianças estão morrendo de fome.
Em uma pequena comunidade indígena de Salta, uma província no extremo norte argentino assolada pela pobreza, oito crianças morreram só em janeiro por causa da desnutrição e da falta de acesso à água potável, disseram autoridades de saúde.
O problema também afeta outros locais e levou o governo nacional a anunciar um plano para combater a fome. O governador de Salta declarou uma emergência de saúde pública, prometendo trabalhar com o governo federal para proporcionar água tratada à província.
Ali, na semana passada, crianças da comunidade Wichi, que tem uma população de meros 1.200 habitantes, brincavam descalças na lama diante de barracos montados com madeira e tecido.
Em Tartagal, a cidade mais próxima de onde os wichi vivem, os leitos hospitalares estão repletos de crianças wichi sofrendo de desnutrição e uma gama de outros problemas de saúde ligados à falta de saneamento, segundo autoridades de saúde. Às vezes as crianças chegam tarde demais para se recuperarem, de acordo com Juan Lopez, gerente do hospital de Tartagal.
Complicações relacionadas aos problemas levaram à morte das oito crianças wichi em janeiro, disse ele. A comunidade também tem uma das taxas de mortalidade infantil mais altas da Argentina.
Um porta-voz do Ministério da Saúde da Argentina disse: "Estamos mantendo contato frequente com a província de Salta. Estamos providenciando assistência alimentar e assistência de saúde." Ele acrescentou que há equipes do governo federal trabalhando na província.
Liliana Ciriaco, uma wichi de 45 anos, disse que a comunidade tem convivido com "muitas doenças". "Há algumas mulheres grávidas que morrem, há crianças que morrem, os idosos também, e não sabemos o que está acontecendo".
Um século atrás, a Argentina era um dos países mais afluentes do globo, mas sofreu uma série de crises econômicas nas últimas décadas, a mais recente delas iniciada em 2018. A inflação paira acima dos 50% e o índice de pobreza é de 35% - e as comunidades indígenas, historicamente pobres, estão sendo particularmente atingidas.
O novo presidente argentino, Alberto Fernández, fez campanha prometendo combater a desnutrição, a pobreza e o desemprego. Em dezembro, ele anunciou um plano para combater o problema nas áreas mais pobres do país chamado "Argentina Contra a Fome".
Alejandro Deane, presidente da Fundação Siwok, dedicada à melhorar acesso à água tratada por comunidades indígenas no norte da Argentina, classificou a situação dos Wichi como "desastrosa".
"A situação é desastrosa em todos os indicadores...não há boas notícias. Agora, o que se pode fazer? Aqui falta um plano de longo prazo, não um plano de curto prazo que é o que constantemente acontece", disse Deane.
(Reportagem adicional de Marina Lammertyn e Cassandra Garrison)