Por Abdulrahman al-Ansi e Michelle Nichols
SANAA/NOVA YORK (Reuters) - Os olhos de Ahmadiya Juaidi estão arregalados enquanto ela bebe um shake nutritivo em uma grande caneca laranja segurada pela alça por seus finos dedos. Seu cabelo está puxado para trás e ao redor do pescoço está pendurado um colar de prata com um coração e a letra A.
Três semanas atrás, a menina de 13 anos pesava apenas nove quilos quando foi internada no hospital al-Sabeen na capital do Iêmen, Sanaa, com uma desnutrição que a deixou doente por pelo menos quatro anos. Agora ela pesa 15 quilos.
"Temo que, quando voltarmos para o interior (do país), sua condição se deteriore novamente devido à falta de alimentos nutritivos. Não temos renda", disse seu irmão mais velho, Muhammad Abdo Taher Shami, à Reuters.
Eles estão entre cerca de 16 milhões de iemenitas --mais da metade da população do país da Península Arábica-- que as Nações Unidas afirmam serem vítimas de escassez de alimentos. Destes, cinco milhões estão à beira da fome, alerta o chefe da ajuda humanitária da ONU, Mark Lowcock.
Na segunda-feira, a Organização das Nações Unidas espera arrecadar cerca de 3,85 bilhões de dólares em um evento virtual de promessas para evitar o que Lowcock diz ser uma fome "provocada pelo homem" em grande escala, a pior que o mundo já viu em décadas.
Mais de seis anos de guerra no Iêmen --amplamente vista como um conflito proxy entre a Arábia Saudita e o Irã-- fizeram o país empobrecido mergulhar no que as Nações Unidas descrevem como a maior crise humanitária do mundo.
Cerca de 80% dos iemenitas precisam de ajuda, com 400 mil crianças com menos de cinco anos gravemente desnutridas, de acordo com dados da ONU. O país depende de importações para abastecer grande parte do mercado interno com comida, mas elas foram seriamente afetadas ao longo dos anos por todas as partes em conflito.
"Antes da guerra, o Iêmen era um país pobre com um problema de desnutrição, mas tinha uma economia em funcionamento, um governo que prestava serviços a uma grande quantidade de sua população, uma infraestrutura nacional e uma base de exportação", disse Lowcock a repórteres. "A guerra destruiu em grande parte tudo isso."
"No mundo moderno, a fome envolve basicamente pessoas sem renda e outras bloqueando os esforços para ajudá-las. É basicamente isso que temos no Iêmen", acrescentou.