Por Angus McDowall
RIAD (Reuters) - O tumulto que assola o Iêmen, país vizinho da Arábia Saudita, será o primeiro grande teste para o novo rei Salman e dará um vislumbre se sua abordagem para locais problemáticos em uma região volátil será diferente daquela de seu falecido irmão Abdullah.
O Iêmen corre o risco de se dividir com a ascensão do movimento Houthi, um grupo cujo principal aliado estratégico é o Irã, grande inimigo regional de Riad, em um país que também é o lar da afiliada mais ativa da sunita Al Qaeda.
Neste ponto o Iêmen reflete o que vem ocorrendo em todo o Oriente Médio, no qual aliados xiitas de Teerã dominam o Iraque e a Síria, mergulhados em conflitos, enquanto a Arábia Saudita tenta apoiar grupos sunitas sem fortalecer seus inimigos islâmicos militantes.
Com o rei Abdullah, a Arábia Saudita pôs em prática uma política regional de mão dupla para conter a influência iraniana e ao mesmo tempo se opor ao crescimento do islamismo sunita politizado, que via como uma ameaça ideológica para o reinado da dinastia.
Isso não deve mudar, embora a chegada de um monarca mais jovem possa levar a uma abordagem mais ativa, o que pode incluir um novo esforço para aproximar e envolver forças atuantes no Iêmen, dizem analistas.
A política externa da Arábia Saudita é um trabalho de equipe para os íntimos dos príncipes regentes, embora a última palavra seja do rei. Salman foi parte integral da equipe de Abdullah e representa muitos dos mesmos príncipes.
"Eles não irão se enfiar em areia movediça. Não acho que haverá grandes mudanças. É uma questão de contenção", disse um saudita íntimo dos formuladores de políticas.
Entretanto, o fato de ser 11 anos mais novo que Abdullah, e capaz de dar mais atenção aos grandes temas, pode fazer com que a política saudita se torne mais proativa, especialmente no Iêmen, com o qual vinha ocorrendo um distanciamento sem alarde nos últimos anos.
"Acho que eles irão ao Iêmen de olhos bem abertos e tentarão fazer contato com todas as partes envolvidas na crise, sem excluir ninguém", declarou Mustafa Alani, especialista em segurança com laços estreitos no Ministério do Interior do reinado.
Depois de décadas comprando o apoio de tribos, políticos e clérigos iemenitas, a dinastia Al Saud viu sua rede de apoio desmoronar na esteira do levante de 2011 e retomou uma política de segurança defensiva.
Riad está elaborando uma série de defesas de fronteira rígidas para se isolar de sua vizinhança turbulenta e interrompeu o envio de fundos para Sanaa, torcendo para que isso acabe persuadindo os novos governantes do Iêmen a fazer concessões.
O príncipe Mohammed, cuja atribuição principal é garantir a segurança doméstica do reinado, foi quem mais se destacou na formulação da política para o Iêmen nos últimos anos, trabalhando de perto com Sanaa contra a Al Qaeda, mas também reforçando a proteção das fronteiras.
"Os sauditas estão procurando um parceiro de verdade. Estão muito, muito confusos", afirmou uma fonte próxima do governo iemenita, acrescentando que os sauditas não apoiarão nenhum governo do qual os Houthis participem.
(Reportagem adicional de Yara Bayoumy em Sanaa e William Maclean em Dubai)