Por Gabriela Baczynska
MOSCOU (Reuters) - O crítico do Kremlin Alexei Navalny foi solto de um centro de detenção de Moscou nesta sexta-feira e prometeu que a oposição russa vai continuar a combater o presidente Vladimir Putin, sem se deixar acovardar pelo assassinato na semana passada do proeminente oposicionista Boris Nemtsov.
Mas Navalny e outros líderes da oposição enfrentam uma tarefa difícil para transmitir sua mensagem para um grupo mais amplo do que a pequena classe média urbana da Rússia, especialmente pelo fato de serem, de modo geral, excluídos da cobertura da mídia estatal e, também, porque costumam brigar entre si.
Vestindo uma jaqueta escura e calça jeans, e com a barba por fazer, Navalny foi libertado depois de cumprir 15 dias de prisão por distribuir panfletos no metrô de Moscou para divulgar uma manifestação de protesto.
Ele disse que iria para casa tomar banho e trocar de roupa antes de visitar o túmulo de Nemtsov, já que não pôde comparecer ao funeral na terça-feira.
"Não haverá trégua em nossos esforços. Não vamos desistir de nada. Quanto a isso, esse ato de terror não alcançou o seu objetivo", disse Navalny após atravessar a pé o portão do centro de detenção, carregando seus pertences em uma sacola esportiva preta. "Não estou com medo e tenho certeza que meus companheiros também não estão com medo."
Nemtsov era um liberal que ocupou um cargo de vice-primeiro ministro na década de 1990, mas se tornou um crítico ferrenho de Putin. Ele foi baleado por um agressor desconhecido na sexta-feira à noite diante das muralhas do Kremlin, tornando-se a figura mais proeminente da oposição a ser assassinada durante os 15 anos de governo de Putin.
Os aliados de Nemtsov dizem ter sido um assassinato político com o objetivo de intimidar a oposição. Putin definiu o crime como uma tragédia vergonhosa, e o Kremlin negou qualquer envolvimento.
A oposição marcou um protesto para 19 de abril, em Moscou, disse Mikhail Kasyanov, um ex-primeiro-ministro e colaborador próximo de Nemtsov.
Nemtsov e Navalny foram os líderes de protestos em massa contra Putin que tomaram as ruas de Moscou e outras grandes cidades em 2011 e 2012. Mas as manifestações perderam força e o movimento não conseguiu evoluir e se consolidar como uma força capaz de competir com Putin.
Em 2012, Putin iniciou um terceiro mandato presidencial e reforçou seu controle sobre o poder. Ações como a anexação da península ucraniana da Crimeia provocaram sanções ocidentais, mas aumentaram sua popularidade, atualmente acima de 80 por cento.
Líderes da oposição liberal são levados mais a sério no exterior do que na Rússia, e muitos têm sido alvo de processos judiciais e prisão.
Além disso, a oposição está dividida em pequenos grupos que não têm um líder único ou programa, e muitas vezes divergem sobre estratégia e táticas, resistindo aos esforços para se unificarem em um movimento único.
O assassinato de Nemtsov deixou ativistas e simpatizantes devastados, aprofundando a visão sombria entre muitos deles sobre a perspectiva de qualquer mudança na Rússia.
(Reportagem de Maxim Shemetov e Mikhail Antonov) 2015-03-06T134349Z_1006940001_LYNXMPEB250LU_RTROPTP_1_MUNDO-RUSSIA-OPOSITOR-SOLTO.JPG