MADRI (Reuters) - A segurança estatal de Cuba está pressionando dissidentes para que se exilem na tentativa de enfraquecer a oposição na ilha comunista, disse uma organização não governamental de direitos humanos nesta quarta-feira.
Sediada em Madri, a Cuban Prisoners Defenders divulgou um relatório de 259 páginas que identificou 35 ativistas, jornalistas independentes e artistas que as autoridades forçaram a sair do país ao longo dos últimos dois anos, orientando-as a nunca voltarem.
A segurança estatal ameaçou-os de prisão ou danos corporais se não partissem, e assediou suas famílias, disse a ONG, que tem laços com o maior partido opositor cubano, a União Patriótica de Cuba (Unpacu).
O governo de Cuba, que não respondeu a um pedido de comentário, acusa os dissidentes de serem mercenários pagos pelos Estados Unidos, seu inimigo de longa data da Guerra Fria, para minarem o governo de Cuba, e normalmente minimiza tais acusações, retratando-as como tentativas de macular sua reputação.
"É evidente que isto é algo acontecendo em uma escala maciça e alarmante e que é imperativo que seja detido", disse a Cuban Prisoners Defenders no relatório, que incluiu dezenas de depoimentos.
A ONG, que foi criada no final do ano passado, disse que mais de um terço dos 26 ativistas que responderam sua pesquisa pela internet disseram que foram escoltados pela segurança estatal ao aeroporto e obrigados a se exilar.
Alguns receberam passagens, normalmente para voos à Guiana, onde cubanos podem obter um visto de turista ao chegarem, e dinheiro para seu primeiro mês, segundo a entidade.
O grupo disse que, durante um período de pesquisa de oito dias neste mês, identificou mais 42 pessoas que as forças da segurança estatal estão pressionando para que partam e que concluiu que provavelmente existem muitos outros casos.
Javier Larrondo, representante da Cuban Prisoners Defenders e membro da Unpacu, disse que há tempos as autoridades cubanas estimulam alguns dissidentes a partirem, mas que estão se tornando mais sistemáticas e agressivas, em parte para diminuir o número de presos políticos nas prisões.
"Pretendo ir para os Estados Unidos porque é o país que mais nos oferece segurança", disse Eliecer Gongora Izaguirre, um dos ativistas mencionados no relatório divulgado nesta quarta-feira, à Reuters por telefone da Costa Rica.
Um diplomata ocidental lotado em Havana, que falou sob condição de anonimato, disse que o Estado tende a pressionar ativistas pouco conhecidos, ao invés de figuras mais notórias – o que provavelmente causaria mais indignação internacional.
(Redação Madri)