Por Sarah Marsh e Nelson Acosta
HAVANA (Reuters) - Os cubanos lamentaram nesta sexta-feira o retorno a uma era mais fria nas relações com os Estados Unidos depois de saberem que o presidente Donald Trump está prestes a anunciar um plano para endurecer normas sobre viagens e negócios na ilha, revertendo parte de uma distensão histórica realizada pelo governo anterior.
Trump informará nesta sexta-feira um plano para reforçar as exigências para viagens de norte-americanos a Cuba e restringir os negócios que as empresas de seu país podem fazer com empresas cubanas controladas pelos militares da ilha, disseram funcionários da Casa Branca.
"Dói-me que voltemos atrás. Dar um passo para trás na aproximação que tivemos com Obama só serve para nos afastar do mundo", disse Marta Deus, que irá assistir ao discurso de Trump em Miami, considerada o coração do exílio cubano.
Marta abriu recentemente uma empresa de contabilidade e um serviço de remessas para atender a um setor privado que vem florescendo nos últimos dois anos e meio, na esteira de um acordo entre Barack Obama e o mandatário cubano, Raúl Castro, para normalizar as relações entre os antigos inimigos da Guerra Fria.
"Precisamos de clientes, turistas, que a economia ande, e com o isolamento de Cuba só se tem um impacto negativo em muitas famílias cubanas (e) o fechamento de negócios", disse.
O acordo entre Obama e Raúl, em dezembro de 2014, criou euforia em Cuba, que esperava uma melhoria em sua frágil economia.
Um aumento de visitas de turistas dos EUA criou ímpeto neste setor, especialmente em Havana, criando mais acomodações, restaurantes, táxis e serviços de guias no incipiente setor privado.
Mas os críticos argumentam que a distensão não melhorou o nível dos direitos humanos no país. Trump justificará a reversão parcial das medidas de Obama em grande medida por estas razões, segundo autoridades da Casa Branca e alguns dissidentes que respaldam a decisão.
As autoridades cubanas intensificaram as detenções de ativistas e têm confiscado celulares e laptops com frequência.
"Quando a administração Obama deixou de condenar as violações de direitos humanos em Cuba (...) o regime disse a si mesmo: continuamos e não acontece nada, por isso vamos continuar reprimindo com mais força", disse José Daniel Ferrer, que lidera a União Patriótica, maior grupo dissidente cubano.
Outros dissidentes afirmam que retroceder na distensão acabará por prejudicar os cubanos.
"Provavelmente (suas medidas) não terão nenhum benefício em termos de direitos humanos", opinou Eliécer Ávila, líder do grupo opositor Somos Más.
"Indubitavelmente (estas medidas) irão afetar Cuba, mas nem por isso irão afundar Cuba. Irão afetar bastante o setor privado, muito mais que o governo cubano", disse Carlos Alzugaray, um diplomata cubano aposentado.